Platão, em sua luta contra os sofistas, descobriu que a "arte universal de encantar o espírito com argumentos" nada tinha a ver com a verdade, mas só visava à conquista de opiniões, que são mutáveis por sua própria natureza e válidas somente "na hora do acordo e enquanto dure o acordo". Descobriu também que a verdade ocupa uma posição muito instável no mundo, pois as opiniões - isto é, "o que pode pensar a multidão", como escreveu - decorrem antes da persuasão do que da verdade. A diferença mais marcante entre os sofistas antigos e os modernos é simples: os antigos se satisfaziam com a vitória passageiro do argumento às custas da verdade, enquanto os modernos querem uma vitória mais duradoura, mesmo que às custas da realidade. Em outras palavras, aqueles destruíam a dignidade do pensamento humano, enquanto estes destroem a dignidade da ação humana. O filósofo preocupava-se com os manipuladores da lógica, enquanto o historiador vê obstáculos nos modernos manipuladores dos fatos, que destroem a própria história e sua inteligibilidade, colocada em perigo sempre que os fatos deixam de ser considerados parte integrante do mundo passado e presente, para serem indevidamente usados a fim de demonstrar esta ou aquela opinião.
Hannah Arendt
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