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25 de outubro de 2016

Hermotimo


Não conheço ninguém que mais cruelmente se tenha vingado de uma injúria do que esse Hermotimo. Tendo sido, certa vez, capturado por inimigos, foi vendido a Paniônio, da ilha de Quios. Paniônio vivia de um tráfico infame: comprava jovens de bela aparência e reduzia-os à condição de eunucos, conduzindo-os a Sardes e ao Éfeso, onde os vendia a muito bom preço; pois a fidelidade dos eunucos tornava-os, entre os bárbaros, mais apreciados do que os outros homens. Vivendo desse tráfico, como já disse, Paniônio reduziu a essa triste condição grande número de jovens, entre os quais Hermotimo. Este, porém, não foi dos mais infelizes: levado para Sardes entre outros presentes destinados a Xerxes, conseguiu, em pouco tempo, conquistar junto ao soberano um prestígio maior do que todos os outros eunucos.
Quando Xerxes se encontrava em Sardes e dispunha-se a lançar suas forças contra a Grécia, Hermotimo, indo desempenhar certa missão em Atárnea, cantão da Mísia, cultivado pelos habitantes de Quios, ali encontrou Paniônio.
Tendo-o reconhecido, testemunhou-lhe a maior amizade, e, começando por enumerar todos os bens que ele, Paniônio, lhe havia feito, disse-lhe que estava disposto a fazer-lhe outros tantos em sinal de reconhecimento, se seu antigo senhor quisesse estabelecer-se, com toda a família, em Sardes. Paniônio, encantado com o oferecimento, transferiu-se para Sardes, instalando-se na casa de Hermotimo, com a mulher e os filhos. Quando o teve em seu poder juntamente com a família, o eunuco assim lhe falou: “Oh homem vil e infame! Tu, o mais torpe de todos os homens; que ganhas a vida com a mais iníqua das profissões! Que mal te havíamos feito, eu e os meus, para me privares do meu sexo, reduzindo-me a um farrapo de homem? Imaginaste, porventura, que os deuses ignorariam a tua ação nefanda? Celerado! Por um justo castigo, eles te lançaram, por meio de um ardil, às minhas mãos, a fim de que pudesses sofrer a pena que te vou aplicar”. Isso dizendo, Hermotimo mandou buscar os quatro filhos de Paniônio e obrigou-o a mutilá-los ele próprio. Paniônio, ante a atitude decidida do eunuco, não teve outro remédio senão executar as ordens.
Hermotimo obrigou, em seguida, os meninos a fazerem a mesma operação no pai, vingando-se assim do ultraje que sofrera.
 
Heródoto de Halicarnasso

22 de outubro de 2016

Festa de aniversário


Sentem-se os Persas no dever de festejar seu aniversário de nascimento, mais do que qualquer outra data, pondo nesse dia as melhores iguarias à mesa. Os ricos fazem servir um cavalo, um camelo, um asno e um boi inteiros e assados ao forno. Os pobres se contentam com um cardápio mais modesto. Os Persas comem poucos alimentos sólidos, mas muitas gulodices na sobremesa. Isso os leva a dizer que os Gregos satisfazem logo o apetite porque depois da refeição não lhes servem nada de bom; se lhes servissem, não deixariam de comer. São muito dados ao vinho, e não lhes é permitido vomitar nem urinar na presença de outrem. Observam ainda hoje tais costumes. Têm o hábito de deliberar sobre os negócios mais sérios depois de beberem muito; mas no dia seguinte, o dono da casa onde estiveram reunidos traz novamente à baila a questão, antes de começarem a beber de novo. Se aprovam, ela passa; se não, abandonam o assunto. Às vezes, entretanto, dá-se o contrário: o que decidiram antes de beber passam a discutir novamente durante a embriaguez.
 
Heródoto de Halicarnasso

Citas


Quanto aos costumes que observam na guerra, vale mencionar os seguintes: o guerreiro cita bebe o sangue do primeiro homem que consegue abater, corta a cabeça a todos os que mata em combate e leva-as ao seu soberano. Quando apresenta a este a cabeça de um inimigo, pode compartilhar dos despojos da luta; em caso contrário, lhe é negado esse direito.
Para esfolar a cabeça do inimigo abatido, o Cita faz primeiramente uma incisão em torno da mesma, na direção das orelhas, e, segurando-a pelo alto, puxa a pele, arrancando-a. Em seguida, limpa a pele tirando-lhe toda a carne, depois do que fricciona-a nas mãos para amaciá-la. Tendo-a assim preparado, dela se serve como guardanapo e amarra-a no bridão do cavalo. Isso constitui um título de honra. O Cita que possui tais guardanapos é considerado valente e destemido, e quanto maior o número desses troféus, maior é a consideração de que goza entre os seus. Muitos cosem os fragmentos de pele humana, como as capas dos pastores, e fazem delas vestuários. Outros também esfolam até as unhas a mão direita do inimigo, fazendo da pele bainha para as aljavas. A pele humana é, realmente, espessa e brilhante, e de todas a mais notável pela brancura. Outros há, ainda, que esfolam homens inteiros, e depois de espichar a pele em pedaços de madeira, colocam-na sobre seus cavalos.
As cabeças, não de todos os inimigos, mas dos mais famosos, são tratadas da seguinte maneira: serram o crânio acima das sobrancelhas e limpam-no. Os pobres contentam-se em revesti-lo de um pedaço de couro, sem ornato algum; os ricos não só o recobrem com pele de boi, como o douram por dentro, dele servindo-se, à semelhança de uma taça, para beber. Fazem o mesmo com a cabeça dos parentes próximos se, depois de alguma disputa com eles, levam a melhor. A decisão da contenda tem de ser feita perante o rei. Se um estrangeiro de categoria visita o país apresentam-lhe esses crânios, relatando-lhe como venceram aqueles a que eles pertenceram, ainda que se trate de parentes, constituindo isso motivo de vaidade e classificando tal procedimento como ações de mérito.

Heródoto de Halicarnasso
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