Não conheço ninguém que mais cruelmente se tenha vingado de uma injúria do que esse Hermotimo. Tendo sido, certa vez, capturado por inimigos, foi vendido a Paniônio, da ilha de Quios. Paniônio vivia de um tráfico infame: comprava jovens de bela aparência e reduzia-os à condição de eunucos, conduzindo-os a Sardes e ao Éfeso, onde os vendia a muito bom preço; pois a fidelidade dos eunucos tornava-os, entre os bárbaros, mais apreciados do que os outros homens. Vivendo desse tráfico, como já disse, Paniônio reduziu a essa triste condição grande número de jovens, entre os quais Hermotimo. Este, porém, não foi dos mais infelizes: levado para Sardes entre outros presentes destinados a Xerxes, conseguiu, em pouco tempo, conquistar junto ao soberano um prestígio maior do que todos os outros eunucos.
Quando Xerxes se encontrava em Sardes e dispunha-se a lançar suas forças contra a Grécia, Hermotimo, indo desempenhar certa missão em Atárnea, cantão da Mísia, cultivado pelos habitantes de Quios, ali encontrou Paniônio.
Tendo-o reconhecido, testemunhou-lhe a maior amizade, e, começando por enumerar todos os bens que ele, Paniônio, lhe havia feito, disse-lhe que estava disposto a fazer-lhe outros tantos em sinal de reconhecimento, se seu antigo senhor quisesse estabelecer-se, com toda a família, em Sardes. Paniônio, encantado com o oferecimento, transferiu-se para Sardes, instalando-se na casa de Hermotimo, com a mulher e os filhos. Quando o teve em seu poder juntamente com a família, o eunuco assim lhe falou: “Oh homem vil e infame! Tu, o mais torpe de todos os homens; que ganhas a vida com a mais iníqua das profissões! Que mal te havíamos feito, eu e os meus, para me privares do meu sexo, reduzindo-me a um farrapo de homem? Imaginaste, porventura, que os deuses ignorariam a tua ação nefanda? Celerado! Por um justo castigo, eles te lançaram, por meio de um ardil, às minhas mãos, a fim de que pudesses sofrer a pena que te vou aplicar”. Isso dizendo, Hermotimo mandou buscar os quatro filhos de Paniônio e obrigou-o a mutilá-los ele próprio. Paniônio, ante a atitude decidida do eunuco, não teve outro remédio senão executar as ordens.
Hermotimo obrigou, em seguida, os meninos a fazerem a mesma operação no pai, vingando-se assim do ultraje que sofrera.
Quando Xerxes se encontrava em Sardes e dispunha-se a lançar suas forças contra a Grécia, Hermotimo, indo desempenhar certa missão em Atárnea, cantão da Mísia, cultivado pelos habitantes de Quios, ali encontrou Paniônio.
Tendo-o reconhecido, testemunhou-lhe a maior amizade, e, começando por enumerar todos os bens que ele, Paniônio, lhe havia feito, disse-lhe que estava disposto a fazer-lhe outros tantos em sinal de reconhecimento, se seu antigo senhor quisesse estabelecer-se, com toda a família, em Sardes. Paniônio, encantado com o oferecimento, transferiu-se para Sardes, instalando-se na casa de Hermotimo, com a mulher e os filhos. Quando o teve em seu poder juntamente com a família, o eunuco assim lhe falou: “Oh homem vil e infame! Tu, o mais torpe de todos os homens; que ganhas a vida com a mais iníqua das profissões! Que mal te havíamos feito, eu e os meus, para me privares do meu sexo, reduzindo-me a um farrapo de homem? Imaginaste, porventura, que os deuses ignorariam a tua ação nefanda? Celerado! Por um justo castigo, eles te lançaram, por meio de um ardil, às minhas mãos, a fim de que pudesses sofrer a pena que te vou aplicar”. Isso dizendo, Hermotimo mandou buscar os quatro filhos de Paniônio e obrigou-o a mutilá-los ele próprio. Paniônio, ante a atitude decidida do eunuco, não teve outro remédio senão executar as ordens.
Hermotimo obrigou, em seguida, os meninos a fazerem a mesma operação no pai, vingando-se assim do ultraje que sofrera.
Heródoto de Halicarnasso