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12 de junho de 2019

Castelos no ar


Se você tiver construído castelos no ar, não será trabalho perdido; é ali mesmo que eles devem estar. Agora ponha-lhes os alicerces.

Henry David Thoreau

23 de agosto de 2017

Um fragmento do arco-íris


Se a pessoa der ouvidos às sutis mas constantes sugestões do seu espírito, sem dúvida autênticas, não vê a que extremos, e até loucura, ele pode levá-la; contudo, por aí envereda o seu caminho à medida que cresce em resolução e fé. A mais leve objeção segura que um homem sadio fizer, com o tempo prevalecerá sobre os argumentos e costumes da humanidade. Nenhum homem jamais seguiu a sua índole a ponto de esta o extraviar. Embora o resultado fosse fraqueza física, ainda assim talvez ninguém pudesse dizer que as consequências eram lamentáveis, já que representariam a vida em conformidade com princípios mais elevados. Se o dia e a noite são de tal natureza que vós os saudais com alegria, se a vida emite uma fragrância de flores e ervas aromáticas e se torna mais elástica, mais cintilante e mais imortal - aí está o vosso êxito.
A natureza inteira é a vossa congratulação e tendes motivos terrenos para bendizer-vos. Os maiores lucros e valores estão ainda mais longe de serem apreciados. Chegamos facilmente a duvidar de que existam. Logo os esquecemos. Constituem, entretanto, a realidade mais elevada.
Talvez os fatos mais estarrecedores e verdadeiros nunca sejam comunicados de homem a homem. A verdadeira colheita do meu dia a dia é algo de tão intangível e indescritível como os matizes da aurora e do crepúsculo. O que tenho nas mãos é um pouco de poeira das estrelas e um fragmento do arco-íris. 

Henry David Thoreau

27 de outubro de 2016

Verás que teus filhos fogem à luta


Sabemos que há milhares de pessoas cuja opinião é contrária à escravidão e à guerra. No entanto, nada fazem de efetivo para que ambas terminem. Dizem-se filhos de Washington e Franklin, mas ficam sentados com as mãos nos bolsos, sem procurar saber o que pode ser feito e nada fazendo. Muitas vezes colocam a questão do livre comércio à frente da questão da liberdade, e permanecem quietos lendo as cotações do dia junto com os últimos boletins militares sobre a campanha do México. É provável até que acabem cochilando durante a leitura. Hoje, qual é a cotação do dia de um homem honesto e patriota? Hesitam, se arrependem e às vezes eles até assinam petições, mas nada fazem de sério ou de prático. Na melhor das disposições, preferem esperar que outros remediem o mal, de forma que nada reste para motivar seu arrependimento. Na maioria das vezes, nada mais farão do que depositar na urna um voto insignificante, cumprimentar timidamente a atitude certa e, de passagem, lhe desejar boa sorte. Há novecentos e noventa e nove patronos da virtude e apenas um homem virtuoso. Por isso que é mais fácil tratar com o verdadeiro dono de algo do que com seu guardião temporário.
Toda votação se constitui num tipo de jogo, como damas e gamão, com uma leve coloração moral, em que se brinca com o certo e o errado sobre questões morais. Por certo que há apostas nesse jogo. Não entra nas avaliações o caráter dos eleitores. Declaro meu voto - provavelmente - consoante meu critério moral. Conquanto não tenho um interesse vital de que o certo saia vitorioso. Tenho certa disposição a deixar essa decisão para a maioria. Desse modo, o compromisso de votar nunca vai mais longe do que as conveniências. Nem sempre o ato de votar pelo que é certo implica em fazer algo pelo que é certo. Significa tão somente uma maneira de expressar publicamente meu fraco desejo de que o certo venha a prevalecer. Já um homem sábio não deixará o que é certo nas mãos incertas do acaso e nem esperará que sua vitória se dê através da força da maioria. Escassa virtude é o que se vê nas ações da grande turba.

Henry David Thoreau

25 de outubro de 2016

A melhor companhia


Considero saudável estar só na maior parte do tempo. Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo. Adoro estar só. Nunca encontrei um companheiro tão sociável como a solidão. Estamos geralmente mais sós quando viajamos com outros homens do que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só, deixai-o pois estar onde ele deseja. A solidão não é medida pelas milhas de espaço que separam um homem e os seus congêneres.
O estudante verdadeiramente diligente de um dos exames da Universidade de Cambridge está tão solitário como um derviche no deserto. O agricultor pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques durante todo o dia, mondando ou podando, e não se sentir solitário porque está ocupado; mas quando chega a casa, à noite, não consegue sentar-se numa sala sozinho, à mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa "estar com as pessoas", distrair-se e ser compensado pela solidão do seu dia; e, assim, interroga-se como pode o estudante estar só em casa durante toda a noite e grande parte do dia sem se aborrecer ou sentir-se deprimido. Mas ele não entende que o estudante, se bem que em casa, ainda está a trabalhar no seu campo, a podar os seus bosques, tal como o agricultor o faz nos seus e que, por seu turno, procura a mesma diversão e companhia que este, embora eventualmente de uma forma mais condensada.
 
Henry David Thoreau

20 de setembro de 2016

Oa!


Adoro presenciar os animais domésticos reafirmarem seus direitos de nascimento - uma certa prova de que não perderam totalmente seus hábitos e vigor originais. Por exemplo, quando a vaca do meu vizinho foge do pasto no começo da primavera e põe-se a nadar intrepidamente no rio, um caudal frio e acinzentado, de vinte e cinco a trinta varas de largura, avolumado pelo degelo. É o búfalo atravessando o Mississipi. Aos meus olhos, tais proezas conferem alguma dignidade aos rebanhos - já dignificados. Quais sementes no ventre da terra, as sementes do instinto são conservadas por tempo indeterminado sob o couro espesso do gado e dos cavalos.
Quando o gado resolve se recrear, ele o faz inesperadamente. Certa feita, presenciei uma manada de doze bois e vacas, que corriam e pulavam incontrolavelmente, como se fossem ratos gigantescos, como se fossem gatos, até. Davam de cabeça, erguiam os rabos, precipitavam-se para o cume de uma colina e daí desciam também velozmente, e eu notei, também pelos seus chifres, assim como pela sua atividade, o parentesco com a família dos veados. Mas, ai deles! Um grito repentino "oa!" estacaria o seu ardor imediatamente, reduzi-los-ia de animais vivos a carne comestível e enrijeceria seus flancos e tendões como uma locomotiva. Quem senão o Anjo Mau gritou "oa!" à humanidade? A vida do gado, efetivamente, como a de muitos homens, é apenas uma espécie de locomoção.

Henry David Thoreau

16 de setembro de 2016

Poder coercitivo do Estado


Já faz seis anos que não pago o imposto per capita. Certa vez, fui encarcerado por causa disso, e passei uma noite preso. Por não ter outra ocupação, fui observando as paredes de pedra sólida com dois ou três pés de espessura, a porta de madeira e ferro com um pé de espessura e as grades de ferro que dificultam a entrada de luz, e não pude deixar de perceber a idiotice de uma instituição que me tratava como se eu fosse apenas carne, sangue e ossos a serem trancafiados. Fiquei matutando que tal instituição devia ter concluído, em suma, que aquela era a melhor forma de me usar e, também, que ela jamais cogitara de se aproveitar de meus serviços de nenhuma forma. Pude ver que apesar da grossa parede de pedra entre mim e meus concidadãos, tinham eles uma muralha muito mais difícil de transpor antes de almejarem ser tão livres quanto eu. Jamais me senti confinado, nem por um momento, e as paredes me pareceram um desperdício descomunal de pedras e argamassa. Meu sentimento íntimo me dizia que eu tinha sido o único de meus concidadãos a pagar o imposto. Claro estava que eles não sabiam como lidar comigo e que se comportavam como pessoas mal educadas. Notava-se um erro crasso em cada ameaça e em cada saudação, visto que eles pensavam que o meu maior desejo era o de estar do outro lado daquela parede de pedra. Não pude deixar de sorrir perante os cuidados com que fecharam a porta e imaginaram trancar as minhas reflexões - que os acompanhavam porta afora sem delongas ou dificuldade. De fato, o perigo estava contido nessas reflexões. Já que eu estava fora de seu alcance, resolveram punir meu corpo. Agiram como crianças incapazes de enfrentar uma pessoa de quem sentem raiva e que por isso dão um chute no cachorro de seu desafeto. Percebi que o Estado era um idiota, tímido como uma solteirona às voltas com sua prataria, incapaz de distinguir seus amigos dos inimigos. Todo o respeito que ainda tinha pelo Estado foi perdido e passei a considerá-lo apenas uma lamentável instituição.
Por conseguinte, o Estado não observa intencionalmente o sentimento intelectual ou moral de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos. É uma instituição carente de gênio superior ou de honestidade, dotada apenas de demasiada força física. Mas eu não nasci para ser coagido. Hei de respirar da forma que eu mesmo escolher. 

Henry David Thoreau
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