13 de abril de 2018

Cala a boca, negro


Chama-se feitor, na roça, o encarregado pelo proprietário de fiscalizar o cultivo das terras, a alimentação dos escravos e a disciplina que deve reinar entre estes; essas funções dão-lhe o direito de castigá-los.
Os vícios punidos são: a embriaguez, o roubo e a fuga; a preguiça é castigada a qualquer momento com chicotadas ou bofetões distribuídos de passagem.
À nossa chegada ao Brasil, os feitores eram, em sua maioria, portugueses. Geralmente irascíveis e rancorosos, acontecia muitas vezes corrigirem eles próprios os escravos; nessas circunstâncias, a vítima sofria com resignação, à espera da tortura que a aguardava.
O infeliz representado no primeiro plano, depois de amarradas as mãos sentou-se sobre os calcanhares, passando as pernas entre os braços de modo a permitir ao feitor que enfiasse uma vara entre os joelhos para servir de entrave; em seguida, facilmente derrubada com um pontapé, a vítima conserva uma posição de imobilidade que permite ao feitor saciar a sua cólera. Ousando apenas articular uns gritos de misericórdia, o escravo só ouve como resposta "cala a boca, negro".
Um segundo exemplo de castigo se encontra no último plano; aí, é um dos mais antigos escravos que se encarrega de aplicar as chicotadas.
Quando um feitor desconfia do carrasco, faz colocar atrás dele um segundo escravo, igualmente armado de chicote, para agir quando necessário, e, levando mais longe ainda suas precauções tirânicas, coloca-se ele próprio em terceiro lugar, para castigar o fiscal no caso em que este não cumpra seu dever com bastante severidade.
As duas tiras de couro da ponta do chicote arrancam, no primeiro golpe, a epiderme, tornando o castigo mais doloroso; este é, em geral, de doze a trinta chicotadas, depois das quais se torna necessário lavar a chaga com pimenta do reino e vinagre, para cauterizar as carnes e evitar a putrefação, tão rápida num clima quente.

Jean Baptiste Debret

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