Chama-se feitor, na roça, o
encarregado pelo proprietário de fiscalizar o cultivo das terras, a
alimentação dos escravos e a disciplina que deve reinar entre estes;
essas funções dão-lhe o direito de castigá-los.
Os
vícios punidos são: a embriaguez, o roubo e a fuga; a preguiça é
castigada a qualquer momento com chicotadas ou bofetões distribuídos de
passagem.
À nossa chegada ao Brasil,
os feitores eram, em sua maioria, portugueses. Geralmente irascíveis e
rancorosos, acontecia muitas vezes corrigirem eles próprios os escravos;
nessas circunstâncias, a vítima sofria com resignação, à espera da
tortura que a aguardava.
O infeliz
representado no primeiro plano, depois de amarradas as mãos sentou-se
sobre os calcanhares, passando as pernas entre os braços de modo a
permitir ao feitor que enfiasse uma vara entre os joelhos para servir de
entrave; em seguida, facilmente derrubada com um pontapé, a vítima
conserva uma posição de imobilidade que permite ao feitor saciar a sua
cólera. Ousando apenas articular uns gritos de misericórdia, o escravo
só ouve como resposta "cala a boca, negro".
Um
segundo exemplo de castigo se encontra no último plano; aí, é um dos
mais antigos escravos que se encarrega de aplicar as chicotadas.
Quando
um feitor desconfia do carrasco, faz colocar atrás dele um segundo
escravo, igualmente armado de chicote, para agir quando necessário, e,
levando mais longe ainda suas precauções tirânicas, coloca-se ele
próprio em terceiro lugar, para castigar o fiscal no caso em que este
não cumpra seu dever com bastante severidade.
As
duas tiras de couro da ponta do chicote arrancam, no primeiro golpe, a
epiderme, tornando o castigo mais doloroso; este é, em geral, de doze a
trinta chicotadas, depois das quais se torna necessário lavar a chaga
com pimenta do reino e vinagre, para cauterizar as carnes e evitar a
putrefação, tão rápida num clima quente.
Jean Baptiste Debret
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