Em princípio, o judaísmo tem seu lugar entre as religiões do império; de fato, Israel recusa-se, há séculos, a ser apenas um povo entre os povos, possuindo um deus entre os deuses. Os Dácios, mesmo os mais selvagens, não ignoram que seu Zalmóxis se chama Júpiter em Roma; o Baal púnico do Monte Cássio é identificado sem dificuldade com o Pai que tem na mão a Vitória e do qual nasceu a Sabedoria; os Egípcios, aliás tão orgulhosos das suas fábulas dez vezes seculares, concordam em ver em Osíris um Baco sobrecarregado com atributos fúnebres; o violento Mitra sabe-se irmão de Apolo. Nenhum povo, salvo Israel, tem a arrogância de possuir toda a verdade nos limites estreitos de uma única concepção divina, insultando assim a multiplicidade do Deus que tudo contém; nenhum outro deus inspirou a seus adoradores o desprezo e o ódio por aqueles que rezam em altares diferentes. Era mais uma razão para que eu desejasse fazer de Jerusalém uma cidade como as outras, onde muitas raças e muitos cultos poderiam coexistir em paz; esquecia-me completamente de que, em todo combate entre o fanatismo e o senso comum, este último raramente é o vencedor.
Marguerite Yourcenar