Sou francesa e muçulmana. Nasci em uma pequena cidade na região da Bourgogne e me mudei para Avignon quando era ainda adolescente. Sou filha de marroquinos. Meus pais vieram para cá há 40 anos. Sinto-me inteiramente francesa e por nada nesse mundo deixaria a França. O que quero é ser livre para vestir o que quiser no meu próprio país.
Decidi usar o niqab há 11 anos. No começo, era somente uma reivindicação religiosa. Agora, trata-se também de um combate pela liberdade individual. Antes, não me cobria, nem mesmo usava o hijab (que cobre somente o cabelo), até começar a ler textos e livros sobre o Islã.
Decidi vestir o niqab para seguir o exemplo da mulher do profeta Maomé. Foi uma escolha pessoal e espiritual e não uma imposição. Um dia saí de casa e comprei um niqab escondido do meu marido. Na manhã seguinte, a gente ia sair, aí decidi colocar o véu. Ele ficou surpreso, mas como era uma escolha minha, entendeu e aceitou.
Quando comecei a usar o niqab, as pessoas me olhavam na rua com curiosidade, às vezes surpresos, mas nunca fui agredida ou insultada. Agora, depois da polêmica sobre a lei contra a burca, ficou muito difícil usar o véu integral aqui na França. As pessoas me olham com raiva. São olhares maldosos, cheios de ódio. Há também insultos, agressões. Tornou-se um combate diário.
Um dia, fui buscar meus filhos na escola. Quando voltava pra casa, com meu marido, amigos e outras crianças, um homem mais velho veio pra cima de mim. Ele me insultava, dizendo que eu não tinha mais o direito de usar o véu integral nesse país. De repente, tirou uma faca e tentou me atingir. Meu marido agarrou a mão dele e conseguiu desarmá-lo. Foi um horror. As crianças começaram a chorar. Desde que começou essa polêmica, já fui três vezes dar queixa de agressão ou insultos. Antes, nunca havia entrado numa delegacia.
Casei-me aos 19 anos e não foi um casamento arranjado. Meu marido nasceu no Marrocos, também é muçulmano e veio para a França quando era pequeno. Temos quatro filhos de 9, 10, 11 e 12 anos. Meus pais também eram muçulmanos, mas nunca foram radicais. Em casa, a gente praticava mais a tradição marroquina do que a muçulmana. A prática da prece não era constante. A única obrigação era o Ramadã.
Hoje, trabalho como voluntária em associações laicas de ajuda social e terminei, recentemente, uma formação como assistente jurídica. Tenho uma vida completamente normal. Trabalho, faço compras, levo e busco meus filhos na escola, ajudo nos deveres. Tenho três meninas e não vou impor a elas o uso do véu ou do niqab. Elas é que vão escolher.
Não acho que o Islã ou o véu integral signifiquem submissão da mulher. Na França, a maioria das mulheres que usa o niqab são cidadãs francesas. Nunca conheci uma mulher que me dissesse que usava o niqab porque o marido a obrigava. Para mim, é uma escolha pessoal e uma prescrição divina.
A proibição da burca na França é uma ditadura. É o governo que vai acabar me obrigando a ficar trancada em casa e não meu marido. Vou continuar a usar o niqab, mesmo que a legislação seja aprovada. O niqab é a minha liberdade.
Decidi usar o niqab há 11 anos. No começo, era somente uma reivindicação religiosa. Agora, trata-se também de um combate pela liberdade individual. Antes, não me cobria, nem mesmo usava o hijab (que cobre somente o cabelo), até começar a ler textos e livros sobre o Islã.
Decidi vestir o niqab para seguir o exemplo da mulher do profeta Maomé. Foi uma escolha pessoal e espiritual e não uma imposição. Um dia saí de casa e comprei um niqab escondido do meu marido. Na manhã seguinte, a gente ia sair, aí decidi colocar o véu. Ele ficou surpreso, mas como era uma escolha minha, entendeu e aceitou.
Quando comecei a usar o niqab, as pessoas me olhavam na rua com curiosidade, às vezes surpresos, mas nunca fui agredida ou insultada. Agora, depois da polêmica sobre a lei contra a burca, ficou muito difícil usar o véu integral aqui na França. As pessoas me olham com raiva. São olhares maldosos, cheios de ódio. Há também insultos, agressões. Tornou-se um combate diário.
Um dia, fui buscar meus filhos na escola. Quando voltava pra casa, com meu marido, amigos e outras crianças, um homem mais velho veio pra cima de mim. Ele me insultava, dizendo que eu não tinha mais o direito de usar o véu integral nesse país. De repente, tirou uma faca e tentou me atingir. Meu marido agarrou a mão dele e conseguiu desarmá-lo. Foi um horror. As crianças começaram a chorar. Desde que começou essa polêmica, já fui três vezes dar queixa de agressão ou insultos. Antes, nunca havia entrado numa delegacia.
Casei-me aos 19 anos e não foi um casamento arranjado. Meu marido nasceu no Marrocos, também é muçulmano e veio para a França quando era pequeno. Temos quatro filhos de 9, 10, 11 e 12 anos. Meus pais também eram muçulmanos, mas nunca foram radicais. Em casa, a gente praticava mais a tradição marroquina do que a muçulmana. A prática da prece não era constante. A única obrigação era o Ramadã.
Hoje, trabalho como voluntária em associações laicas de ajuda social e terminei, recentemente, uma formação como assistente jurídica. Tenho uma vida completamente normal. Trabalho, faço compras, levo e busco meus filhos na escola, ajudo nos deveres. Tenho três meninas e não vou impor a elas o uso do véu ou do niqab. Elas é que vão escolher.
Não acho que o Islã ou o véu integral signifiquem submissão da mulher. Na França, a maioria das mulheres que usa o niqab são cidadãs francesas. Nunca conheci uma mulher que me dissesse que usava o niqab porque o marido a obrigava. Para mim, é uma escolha pessoal e uma prescrição divina.
A proibição da burca na França é uma ditadura. É o governo que vai acabar me obrigando a ficar trancada em casa e não meu marido. Vou continuar a usar o niqab, mesmo que a legislação seja aprovada. O niqab é a minha liberdade.
Kenza Drider