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24 de junho de 2019

Contemplação


Quando contemplamos o céu profundo por muito tempo sem desviar os olhos, não se sabe por que, os pensamentos e a alma se fundem na consciência da solidão. Começamos a nos sentir irremediavelmente sós e tudo que antes achávamos próximo e familiar se torna infinitamente distante e sem valor. As estrelas, que miram do céu há milhares de anos, o próprio céu insondável e a escuridão se mostram indiferentes à vida breve dos homens e oprimem nossa alma com seu silêncio, quando acontece de ficarmos cara a cara com eles e tentamos alcançar seu sentido; então, nos vem ao pensamento a solidão que aguarda cada um de nós na sepultura e a essência da vida parece misteriosa, assustadora...
 
Anton Tchekhov
 
 

16 de setembro de 2017

Bom dia, Nikífor Anissímitch!


Lipa brincava o tempo todo com seu bebê, que ela dera à luz antes da quaresma. Tratava-se de um menininho esquelético, de aspecto deplorável, era até estranho que ele gritasse, olhasse, que o considerassem uma pessoa e que até lhe tivessem dado o nome de Nikífor. Ele ficava deitado no berço, Lipa se afastava até a porta e dizia, em cumprimento:
- Bom dia, Nikífor Anissímitch!
Depois precipitava-se em direção ao filho e o beijava desenfreadamente. Em seguida, afastava-se até a porta e o saudava de novo:
- Bom dia, Nikífor Anissímitch!
E ele levantava as perninhas vermelhas, seu choro misturava-se com o riso.

Anton Tchekhov

Lipa e Nikífor


Lipa brincava com o bebê. Ela o fazia saltar nos seus braços e dizia, com admiração:
- Você vai crescer, vai ficar grande, muito grande! Vai ser um mujique de verdade e aí nós dois vamos juntos trabalhar na roça!
- Pare com isso! - exclamou Varvara, ofendida. - Como é que você pode pensar em trabalhar na roça, sua boba? Ele será comerciante, na nossa casa.
Lipa se pôs a cantarolar baixinho, mas, depois de esperar um tempo, esqueceu e falou de novo:
- Você vai crescer, vai ficar muito grande, vai ser um mujique de verdade e nós dois vamos juntos trabalhar na roça!
- Chega, menina! Você já repetiu mil vezes isso!
Lipa, com Nikífor nos braços, parou diante da porta e perguntou:
- Mãezinha, por que será que eu o amo tanto? Por que será que tenho tanta pena dele? - prosseguiu Lipa, com voz trêmula, e seus olhos começaram a brilhar de lágrimas. - Quem é ele? Como ele é? Leve que nem uma pluma, que nem uma migalhazinha, mas eu o amo, e o amo como um homem de verdade. Ele não consegue fazer nada, não fala, mas pelos seus olhinhos eu compreendo tudo o que ele quer.

Anton Tchekhov
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