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26 de outubro de 2016

Casamento na Roma Antiga


O matrimônio era uma instituição que dependia de pré-requisitos para ser reconhecido. Tinha a ver com o rito de passagem da jovem virgem (virgo) para mãe (mater). O casamento não se completava enquanto não nascesse o primeiro filho. Era uma instituição, portanto, cuja finalidade era apenas a procriação. Os filhos tinham de nascer na casa do pai do marido, não importava se a mãe estivesse submetida à autoridade de seu próprio pai ou à do marido. A idade da noiva variava bastante, a depender de ser ou não seu primeiro matrimônio. Os jovens romanos casavam-se muito cedo. A lei só interditava, para as meninas, a união conjugal antes dos 12 anos. Nas famílias nobres, com frequência, havia longos noivados para aproximar as duas famílias. Podia acontecer de a noiva ir morar na casa de seu futuro esposo antes do casamento.
Independentemente do número de uniões anteriores, o ritual era sempre o mesmo. As mulheres da família vestiam a noiva, que, sob um véu cor de fogo, a lhe cobrir o rosto, usava uma simples túnica branca, presa por um cinto atado por um nó especial, que o marido deveria desfazer. Seu cabelo era dividido em seis partes, penteado com ferro e enfeitado por fitas. Permanecia no lar até que o noivo chegasse. Ele, então, tomava a mulher pela mão e assim estava sancionado o compromisso de fidelidade.
Seguia-se o banquete nupcial, que reunia os parentes das duas casas, firmando a amizade. No final da festa, o marido fingia sequestrar a noiva, arrancando-a aos braços da mãe. Depois, um cortejo conduzia a jovem à casa do marido. Dele faziam parte crianças, necessariamente de pais vivos. Uma delas ia à frente, agitando uma tocha de espinheiro. Muitas pessoas seguiam o cortejo, divertindo-se em fazer comentários obscenos. Chegada ao umbral da casa, a jovem noiva ornava a porta com fiapos de lã e untava-a de toucinho e azeite. O marido, que a aguardava no interior, perguntava seu nome: como uma mulher não possuía patronímico próprio, ela então respondia: "Onde fores Caio, eu serei Gaia". Alçavam-na do chão simbolicamente para que, ao entrar, não tocasse a soleira com os pés: só estranhos entravam pela primeira vez numa casa romana, pois as pessoas da família nela haviam nascido.
No dia seguinte pela manhã, a esposa, usando o costume das matronas, fazia uma oferenda aos deuses domésticos. Doravante, teria pela frente dois destinos possíveis. Se fosse fecunda, daria à luz muitos filhos, tornando-se mãe respeitada e esposa invejada, de fato integrada à comunidade. Se fosse estéril, logo conheceria o repúdio, o que não significava uma situação de marginalidade. Voltaria à casa paterna com seu dote, com a perspectiva de dedicar-se a divertimentos amorosos ou mesmo a negócios. As que engravidavam, não raro morriam cedo, o corpo maltratado pela maternidade precoce. Outras sucumbiam na hora do parto. Foi o caso de Túlia, a filha de Cícero, de Emília, a nora de Sila, e de Júlia, filha de César. Havia, já, a prática da cesariana para situações críticas.
Embora não haja estatísticas a respeito da mortalidade materna, há relatos com queixas de homens a respeito da falta de esposas em condições de ter filhos. Não por acaso, no século II, houve uma intensa procura por mulheres férteis, em todas as camadas da sociedade, o que levou a uma onda de divórcios. As mais fecundas andavam de lar em lar para gerar filhos. No seio da nobreza, os casamentos numerosos ampliavam a rede de relações e apoios políticos. De fato, o casamento tornava-se um compromisso entre homens, que emprestavam as filhas, as irmãs e às vezes as próprias esposas, para que procriassem. Antes, havia o costume da adoção.

Florence Dupont

22 de outubro de 2016

Sexo na Roma Antiga


Em Roma, a união conjugal podia ou não, indiferentemente, coincidir com a amor. De qualquer forma, a exibição pública do enamoramento era considerada indecente. Um senador chegou a perder o mandato pelo fato de ter beijado a mulher, em pleno dia, diante da filha. Assim, o casamento romano era geralmente feito de indiferença. Os esposos raramente compartilhavam o mesmo quarto e os encontros eram limitados à procriação. As mulheres abstinham-se de relações sexuais durante a gravidez e no período de aleitamento, que podia alongar-se por dois ou três anos. Uma boa esposa era a fiel ao marido: não devia traí-lo, nem manifestar comportamento chocante em público ou aliar-se a seus adversários políticos. A lealdade das esposas muitas vezes significava uma dura prova, quando elas eram estéreis. As que sabiam esquecer e aceitar um repúdio temporário, para que o marido acolhesse um ventre fecundo, eram celebradas como heroínas. O mesmo valia para aquelas que não demonstravam ciúmes das concubinas, libertas ou escravas, nem se aproveitavam de sua situação para persegui-las.
Salvo nas comedidas relações entre esposos, o lar romano era um lugar de intensa vida sexual. Todos os escravos eram parceiros potenciais dos homens livres da casa. As interdições não se referiam ao sexo nem à idade, mas ao estatuto jurídico do parceiro, da mesma forma que as ligações não pressupunham relações duradouras nem compromissos e laços. Pura manifestação da natureza, como dormir ou alimentar-se, a sexualidade era praticada livremente, mas os romanos consideravam indecoroso referir-se a ela. Dela convinha falar o menos possível e não transformá-la em uma das belas-artes, como entre os gregos. A lei reprimia contatos fora do casamento se implicassem pagamento em dinheiro e subjugação. Virgem, mulher ou rapaz, pouco importa, o crime de estupro (stuprum) era considerado hediondo, a ponto de levar a pessoa acusada à pena de morte.
De resto, tudo era permitido, sem distinção de sexo ou de idade, porém com reservas: o excesso de prazer amoroso, como todos os outros excessos, era tido como uma falta moral. Quando, por exemplo, um romano respeitava a recusa de um escravo ou de uma escrava ao ato de amor não era que respeitasse nele ou nela o ser humano: fazia-o no intuito de aprender a disciplinar suas próprias paixões, do mesmo modo que se esforçava por dominar sua ira contra um servo negligente. Tratava-se sempre de uma relação consigo, não com o outro.
Embora os casamentos fossem proibidos, na esfera do vetado por incesto, no interior das casas as pessoas viviam relações bastante complexas e de consanguinidade. Os filhos estavam cercados por gente que havia sido, era ou poderia ser amante do pater familias. O que na atualidade se caracteriza como incesto era praticado com frequência e sem escândalo na Roma antiga. O pai podia ter relações com alguém que tivesse sido gerado por uma de suas servas e, portanto, era seu filho ou filha. Da mesma forma, os filhos deitavam-se com as irmãs e irmãos não reconhecidos mas de fato. Mas a sexualidade continuava discreta, momentânea e às vezes coincidia com tamanho estreitamento de laços que levava um senhor a alforriar um escravo. Na casa, o que contava não era nem o amor nem o desejo, mas a fidelidade, a fides.

Florence Dupont
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