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31 de maio de 2017

Antipoema


A mastigar baionetas eu
também devorei a eternidade
desde que fui até Andrômeda
ou pensei em ter ido
naquela primeira e perdida noite
em que o céu coube inteiramente
na minha janela de criança

A mastigar baionetas a gente
faz versos como quem quer
lembrar o que nunca mais será lembrado.
essa é a lei. Isso eu sei.
por isso é que a arte de escrever é uma frescura
e a realidade
é uma padaria
bem maior do que a minha loucura
de viver de poesia
ou
de urinar aquele céu numa pia.

Por isso é que ontem almocei a minha alma
e mais uma vez
usei, para estudar estética, o fundo do poço em que
se afoga o aprisionado olhar dos que têm fome.
 
Moacyr Félix

Sentimento clássico


Pisados, os olhos com que pisaste
a soleira escura de minha face;
e por mais pontes que entre nós lançasse,
ao que de fato sou nunca chegaste.
Que distâncias lamento, e que contraste !
Gravando em cada ser o amor que nasce
não encontrei o amor que me encontrasse:
amaram sem me ver, como me amaste.
Tinha os olhos tristes como eu tenho,
e o pranto que eu te trouxe de onde venho
é o mesmo que te espera adonde vais.

Se a mesma sóbria dor em tudo pomos,
não vês o que me calo. E assim nós somos
o que não somos nem seremos mais. 

Moacyr Félix
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