Todos os escravos ocupados nos diversos serviços pertencem a particulares que os alugam à administração. Houve tempo em que seu número ascendeu a três mil; mas a administração, muito endividada, foi forçada a reduzi-los a mil. A princípio pagavam-nos à razão de 1$200 por semana. Essa soma foi então reduzida a $900, depois a $675. São os proprietários dos negros que os vestem e os tratam em caso de moléstia; é a administração que os nutre e fornece as ferramentas necessárias aos trabalhos.
Cada semana os negros recebem para sua alimentação um quarto de alqueire de fubá, uma certa quantidade de feijão e um pouco de sal; a esses víveres ajunta-se ainda um pedaço de fumo de rolo. Quando há falta de feijão substituem-no pela carne. Os negros comem três vezes por dia, pela manhã, ao meio-dia e à tarde. Como dispõem de muito pouco tempo durante o dia, são eles obrigados a cozinhar seus alimentos à noite e às vezes não dispõem de outro combustível além de ervas secas.
Obrigados a estar continuamente dentro da água durante o tempo da lavagem do minério e consumindo alimentos pouco nutritivos, quase sempre frios e mal cozidos, tornam-se, pela debilidade do tubo intestinal, morosos e apáticos. Além disso correm frequentemente o risco de serem esmagados pelas pedras que se destacam das jazidas ou soterrados por desmoronamentos. Seu trabalho é contínuo e penoso. Sempre sob as vistas dos feitores eles não podem gozar um instante de repouso. Todavia quase todos preferem a extração dos diamantes aos serviços de seus donos. O dinheiro que eles conseguem pelo furto de diamantes e a esperança que nutrem de conseguir alforria se encontrarem pedras de grande valor, são sem dúvida as causas principais dessa preferência; mas há ainda outras. Reunidos em grande número esses infelizes se divertem em seus trabalhos; cantam em coro canções de suas terras, e enquanto nas casas de seus donos eles são submetidos a todos os seus caprichos, aqui eles obedecem a uma regra fixa e desde que se adaptem não têm que temer os castigos.
Os feitores trazem ordinariamente um grande pau terminado por uma tira de couro, de que se servem para castigar, imediatamente, um negro que fugir ao seu dever. Quando a falta é grave a punição é mais severa. Então amarra-se o culpado, e dois de seus companheiros aplicam-lhe nas nádegas golpes de bacalhau, chicote composto por cinco tranças de couro. Os feitores não têm permissão de aplicar essa espécie de chicote; somente os administradores particulares podem infligir um castigo tão severo. Os regulamentos vedam a aplicação de mais de cinquenta golpes de bacalhau; mas, frequentemente ultrapassam esse limite.
Quando um negro encontra um diamante que pese uma oitava a administração avalia o feliz escravo, compra-o a seu dono, veste-o e concede-lhe a liberdade. Seus companheiros coroam-no, festejam-no, carregam-no em triunfo aos ombros. Ele tem o direito de conservar seu lugar na administração dos diamantes, e cada semana recebe $600, que anteriormente eram pagos ao seu dono. Quando o diamante encontrado pesa três quartos da oitava o negro tem sua liberdade assegurada, mas é obrigado a trabalhar um certo tempo para a administração. Foi o Sr. da Câmara que imprimiu essas disposições ao regulamento. Em 1816 foram libertados três negros; mas até outubro de 1817 nenhum negro gozou desse benefício. Para os diamantes que pesam menos de três quartos da oitava a dois vinténs os negros recebem pequenas recompensas, proporcionais ao valor das pedras, a saber: uma faca, um chapéu, um colete etc.
Auguste de Saint-Hilaire
Nenhum comentário:
Postar um comentário