9 de maio de 2018

O marxismo e o sentido da vida


A ideia de que o sentido da vida consistiria  na acumulação e na conservação de riquezas seria uma loucura para os índios kwakiutl, que acumulam riquezas para poder destruí-las; a ideia de procurar o poder e o comando seria loucura para os índios zuni, entre os quais, para fazer de alguém um chefe de tribo, é preciso espancá-lo até que aceite. Marxistas míopes escarnecem quando citamos estes exemplos que eles consideram curiosidades etnológicas. Mas se existe uma curiosidade etnológica no caso, é precisamente a constituída por estes "revolucionários" que erigiram a mentalidade capitalista em conteúdo eterno de uma natureza humana sempre igual e que, falando interminavelmente sobre a questão colonial e o problema dos países mais atrasados, esquecem, em seus raciocínios, dois terços da população do globo. Porque um dos maiores obstáculos que a penetração do capitalismo encontrou e encontra sempre, é a ausência de motivações econômicas e da mentalidade de tipo capitalista entre os povos de países atrasados. É clássico, e sempre atual, o caso dos africanos que trabalhando como operários durante algum tempo, abandonam o trabalho tão logo conseguem juntar a soma que tinham em vista e voltam para a sua cidade, para retomar o que, a seus olhos, é a única vida normal. A partir do momento em que conseguiu constituir uma classe de operários assalariados entre estes povos, o capitalismo, como já mostrava Marx, não conseguiu somente reduzi-los à miséria, destruindo sistematicamente as bases materiais de sua existência independente. Conseguiu, também, destruir impiedosamente os valores e as significações de sua cultura e de sua vida - isto é, fazer efetivamente este conjunto de um aparelho digestivo faminto e de músculos prontos para um trabalho destituído de sentido, que é a imagem capitalista do homem.

Cornelius Castoriadis

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