21 de agosto de 2018

Amélia decide morrer


A imagem de felicidade dessa avó consistia em tomar o trem até Chicago usando um belo chapéu e sair caminhando pela Michigan Avenue, olhando todas as vitrines e sentindo-se elegante. Por um motivo ou outro, ou talvez pelo destino, ela se casou com um homem do campo. Eles foram morar no meio da região tritícola, e a mulher começou a definhar na elegante casa de fazenda que era pequena, exatamente do tamanho certo, com todos os filhos certos e o marido certo. Ela já não tinha mais tempo para a vida "frívola" que havia levado no passado. "Filhos demais." "Serviço doméstico demais."
Um dia, anos mais tarde, depois de lavar o piso da cozinha e da sala de estar com as próprias mãos, ela vestiu sua melhor blusa de seda, abotoou sua saia longa e colocou seu chapéu na cabeça. Empurrou o cano da espingarda do marido contra o céu da boca e puxou o gatilho. Qualquer mulher viva sabe porque ela lavou o chão antes.
Uma alma faminta pode ficar tão cheia de dor que a pessoa não consegue suportar mais. Como as mulheres têm uma necessidade profunda da alma em se expressar em seus próprios estilos de alma, elas precisam se desenvolver e florescer de um modo que faça sentido para elas, sem serem molestadas pelos outros. (...) Quem dentre nós não conhece pelo menos uma mulher amada que perdeu seus instintos para fazer boas opções na vida e foi, assim, forçada a viver uma vida alienada ou pior? Talvez você mesma seja essa mulher.

Clarissa Pinkola Estés

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