Da mesma maneira que os servos, na presença do senhor, são iguais, sem honra de nenhuma espécie, assim também o são os súditos na presença dos soberanos. E, embora alguns tenham mais brilho e outros menos, quando não estão em sua presença, diante dele brilham apenas como estrelas na presença do sol.
Alguém pode objetar que a condição de súdito é muito miserável, estando sujeita aos apetites e paixões irregulares daquele ou daqueles que detêm em suas mãos poder tão ilimitado. O povo, governado por um monarca, acredita que isso é culpa da monarquia; da mesma forma, os que vivem sob um governo democrático ou de outra assembleia soberana atribuem todos os inconvenientes a essa forma de governo. Entretanto, o poder é igual, sob todas as formas, se estas forem suficientemente perfeitas para proteger os súditos. E isso sem considerar que a condição do homem nunca pode deixar de ter um ou outro incômodo, e que o maior que pode recair sobre o povo em geral, em qualquer forma de governo, é irrelevante, se comparado com as misérias e terríveis calamidades que acompanham a guerra civil ou a condição dissoluta de homens sem senhor, sem sujeição às leis e a um poder coercitivo capaz de atar suas mãos, impedindo a rapina e a vingança. E também sem levar em conta que o que mais impulsiona os soberanos governantes é a obstinação daqueles que, contribuindo mesmo que involuntariamente para sua própria defesa, tornam necessário que seus governantes deles arranquem tudo o que podem em tempos de paz, a fim de obterem os meios para resistir ou vencer a seus inimigos, e não os prazeres ou vantagens que esperam receber do prejuízo ou debilitamento causado a seus súditos, em cujo vigor consiste sua própria força e glória. Pois todos os homens, por natureza, estão dotados de grandes lentes de aumento (ou seja, as paixões e o amor-próprio), por meio das quais a mínima contribuição surge como um imenso fardo; por outro lado, são destituídos das lentes prospectivas (moral e ciência civil) que permitem ver de longe as misérias que os ameaçam, e que não podem ser evitadas sem essas contribuições.
Thomas Hobbes
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