27 de maio de 2018

Made in Brasília


Entre as paixões que mais frequentemente são causas de crimes, destaca-se a vanglória, isto é, a insensata superestimação do próprio valor, como se a diferença de valor resultasse do talento, da riqueza ou da ascendência ou, ainda, de qualquer outra qualidade natural, independentemente da vontade dos que detêm a autoridade soberana. Daí deriva a presunção de certos homens de que as punições estabelecidas pelas leis e, em geral, aplicáveis a todos os súditos, não deveriam ser infligidas a eles com o mesmo rigor com que são infligidas aos homens pobres, obscuros e simples, conhecidos por vulgo.
Ocorre, com frequência, que aqueles que se avaliam pela importância de sua fortuna se arriscam a praticar crimes com a esperança de escapar ao castigo, mediante a corrupção da justiça pública ou a obtenção do perdão em troca de dinheiro ou outras recompensas.
Os que têm uma multidão de parentes poderosos, bem como aqueles que gozam de popularidade e adquiriram boa reputação junto à turba, também têm a coragem de violar as leis, na esperança de pressionar o poder ao qual compete mandá-las executar.
Aqueles que têm uma grande e falsa opinião de sua própria sabedoria atrevem-se também a repreender as ações e a questionar a autoridade dos que os governam, conturbando as leis com seus discursos públicos, pelos quais defendem que nada deve ser crime, a não ser aquilo que seus próprios desígnios exigem que o seja. Esses homens têm tendência a todos os crimes que dependem da astúcia e da capacidade de enganar o próximo, pois imaginam que seus desígnios são demasiado sutis para serem percebidos. São esses os que considero possuírem uma falsa presunção da própria sabedoria. Poucos entre os homens responsáveis por instigar a perturbação dos Estados (o que nunca pode ocorrer sem guerra civil) viverão o bastante para assistir ao triunfo de seus novos desígnios. Seus crimes redundam em benefício da posteridade, e de forma diferente do que pretendiam, o que prova que eles não eram tão sábios quanto pensavam. Os que enganam com a esperança de não serem descobertos geralmente se enganam a si próprios (as trevas em que pensam estar escondidos nada mais são que sua própria cegueira), e não têm mais sabedoria do que as crianças que tapam seus próprios olhos para se esconder.

Thomas Hobbes

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