22 de maio de 2018

A oligarquia e seus direitos (ou a essência da quadratura do círculo)


A ignorância das causas e da original constituição do direito, da equidade, da lei e da justiça predispõe os homens a converter costumes e exemplos em normas de ação, de tal forma a considerar injusto aquilo que, por costume, é castigado, e justo aquilo cuja impunidade e aprovação pode servir como exemplo, ou precedente (como dizem, de uma maneira bárbara, os juízes que usam somente essa falsa medida de justiça). São como as crianças, que não têm outra noção do que é bom ou mau, a não ser as medidas corretivas que lhes são impostas pelos pais e mestres, com a diferença de que as crianças são fieis a suas normas, enquanto os homens não o são, pois, à medida que se tornam adultos, fortes e teimosos, apelam aos costumes para terem razão e à razão para estabelecerem costumes, de acordo com seus interesses; assim, desprezam os costumes quando assim o exige seu interesse e se posicionam contra a razão todas as vezes que esta contraria esses mesmos interesses. Por causa disso, a origem da doutrina do justo e do injusto é objeto de constante disputa, tanto pela pena como pela espada, ao contrário da indiscutível teoria das linhas e figuras. Nesse caso, os homens consideram que a verdade não interfere nas ambições, vantagens e luxúrias. Entretanto, se algo tivesse contrariado o direito de domínio ou o interesse dos homens que detêm esse domínio, o princípio segundo o qual três ângulos retos equivalem aos ângulos do quadrado teria sido suprimido por aqueles cujo interesse houvesse sido maculado, sendo queimados todos os livros de geometria.

Thomas Hobbes

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