Planta-se a mandioca em todo o ano, não sendo no inverno, e quer mais tempo seco que invernoso, se o inverno é grande apodrece a raiz da mandioca nos lugares baixos. Lança a rama da mandioca na entrada do verão umas flores brancas como de jasmins, que não têm nenhum cheiro, e por onde quer que quebram a folha lança leite, a qual folha o gentio come cozida em tempo de necessidade, com pimenta da terra. A formiga faz muito dano à mandioca, e se lhe come a folha, mais de uma vez, fá-la secar; a qual como é comesta dela, nunca dá boa raiz, e para se defenderem as roças desta praga da formiga, buscam-lhe os formigueiros, de onde as arrancam com enxadas e as queimam; outros costumam, às tardes, antes que se recolham, pisarem a terra dos olhos dos formigueiros com picões muito bem, para que de noite, em que elas dão os seus assaltos, se detenham em tornar a furar a terra para saírem fora, e lançam-lhe de redor folhas de árvores que elas comem, e das da mandioca velha, com o que, quando saem acima se embaraçam até pela manhã, que se recolhem aos formigueiros; e se as formigas vêm de fora das ruas a comer a elas, lançam-lhes dessa folha no caminho, antes que entram na roça, o qual caminho fazem muito limpo, por onde vão e vem à vontade, e cortam-lhe a erva com o dente, e desviam-na do caminho. Nesse trabalho andam os lavradores até que a mandioca é de seis meses, que cobre bem a terra com a rama, que então não lhe faz a formiga nojo, porque acha sempre pelo chão as folhas que caem de cima, com o que se contentam.
Gabriel Soares de Souza
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