26 de outubro de 2016

Kamasutra


Kama é o prazer e o amor. Na mitologia indiana, Kama é equivalente a Cupido. É o deus hindu do amor que, com seu flóreo arco e as cinco flores por flechas, envia desejos que fazem o coração estremecer. Kama é o desejo encarnado e, como tal, mestre e senhor da Terra, bem como das esferas celestiais inferiores.
O principal texto clássico dos ensinamentos sobre kama que chegou até nós é o célebre Kamasutra, de Vatsyayana. Esta obra deu à Índia uma ambígua reputação de sensualidade, bastante enganadora, pois o tema erótico é apresentado num plano totalmente técnico e secularizado, algo assim como um manual para amantes e cortesãs. A atitude dominante dos indianos, na verdade, é austera, casta e extremamente recatada, marcada por uma ênfase nas atividades puramente espirituais e por uma absorção nas experiências místicas e religiosas. O ensinamento de kama surgiu para corrigir e evitar a frustração na vida conjugal, que deve ter sido muito frequente quando os casamentos por conveniência eram uma regra e os enlaces por amor constituíam uma exceção. Através dos séculos, o casamento tornara-se mais e mais um assunto de família. Os jovens noivos tinham seu destino determinado por horóscopos levantados por astrólogos, conforme os quais se realizariam as negociações de natureza econômica e social entre os chefes de família. Sem dúvida havia muitos lares onde imperava a tristeza e o tédio, e onde um pouco de estudo da ciência das cortesãs poderia ser de grande utilidade. Este compêndio das técnicas de ajustamento e de estimulação foi coligido para uma sociedade de emoções frias, não para homens libertinos.
 
Heinrich Zimmer

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