Para se alcançar o ponto mais elevado da Serra da Estrada Nova não se leva menos de duas horas quando se sobe com as mulas carregadas. O caminho foi aberto, em zigue-zague, com bastante arte; construíram-se pequenas pontes para a passagem dos regatos e, nos lugares onde os desabamentos são de temer, foram as terras escoradas.
O caminho é muito mais curto que os outros, para os habitantes da comarca de São João e por conseguinte de incontestável utilidade.
Trabalhou-se ali, durante muito tempo; gastaram-se somas consideráveis: mas desde que se franqueou a passagem, não só não se concluíram as partes esboçadas como não foram conservados os trechos já construídos. As águas já ali cavaram profundas covas e trarão a inutilização desta bela estrada se mais um ano decorrer sem conserva.
É mais ou menos assim tudo o que se empreende neste país. Os brasileiros aprendem com facilidade; sabem arquitetar planos, mas entregam-se, demais, ao devaneio não medindo obstáculos nem calculando os empreendimentos de acordo com os seus recursos.
Os defeitos da sua administração acumulam os obstáculos fictícios aos reais. O espírito de inveja e intriga mais veemente do que em qualquer outro lugar, interpõe-se a tudo quanto se faz, tudo perturba, favorece o tratante, e desencoraja o homem honesto. Começa-se qualquer empreendimento útil, para logo ser interrompido e abandonado. Às vezes um serviço ordenado pelo governo e que se poderia acabar em pouco tempo, e com despesas mínimas, jamais termina, embora nele se trabalhe sempre. Esta obra como que quase se torna o apanágio de um homem de posição. De que viveria ele se lhe tomassem tal patrimônio?
Auguste de Saint-Hilaire
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