Em que se constitui a experiência estética? Todos nós, de uma forma ou de outra, já sentimos o belo: ouvindo uma sinfonia de Beethoven, uma balada dos Beatles, contemplando um quadro ou uma cena da natureza. Sentimos o belo, mas quando alguém nos pede para descrever a sua essência, somos reduzidos ao silêncio. Palavras são adequadas para descrever objetos: pedras, árvores, montanhas. Mas a experiência estética não é um objeto. A experiência do belo não é a sinfonia de Beethoven, não é a balada dos Beatles, não é o quadro ou a cena da natureza. Se pedíssemos a um físico para fazer uma análise da peça musical, ele poderia fazê-lo. Uma sinfonia é um conjunto de sons, e sons são realidades físicas. Ele reduziria os sons a vibrações, e seria capaz de expressar matematicamente suas intensidades e frequências. Mais do que isto, ele nos poderia fornecer um gráfico que nos revelasse não só a estrutura arquitetônica da obra, como também as nuances de interpretação. Mas de posse dos resultados científicos do seu trabalho perguntaríamos: "Mas, e o belo? Onde está?" Ele não se encontra em nenhum ponto de sua análise científica. Como cientista o físico lida com objetos. Mas a experiência estética não é um objeto. Tanto assim que ela se desvanece quando soa o último acorde da sinfonia. E ficamos apenas com a tristeza de que o belo tenha chegado ao fim. O belo não é nem uma propriedade do objeto e nem uma propriedade do sujeito. Ele vem a existir quando o sujeito é levado a vibrar, emocionalmente, em resposta ao objeto. Esta é a razão por que, frequentemente, aquilo que produz em uma pessoa uma experiência estética profunda e emocional me deixa totalmente frio. Falta-me a sensibilidade. E por isto, para todos os efeitos práticos, é como se o belo não existisse para mim. O belo não é um objeto, mas uma relação harmônica entre o sujeito e a obra de arte.
Rubem Alves
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