5 de outubro de 2016

Abelhas


Assim como o sol e cada átomo do éter constituem esferas perfeitas em si, nada mais que átomos do todo imenso, cuja imensidão é inacessível ao homem, cada indivíduo transporta consigo os seus próprios fins ao mesmo tempo que serve fins comuns incompreensíveis à humanidade.
A abelha pousada numa flor picou uma criança. Esta tem medo das abelhas e diz que esses insetos só servem para picar os homens. O poeta, por sua vez, admira a abelha que esvoaça na corola das flores e afirma que o seu papel consiste em extrair o néctar das plantas. O apicultor, notando que as abelhas recolhem o pólen e o transportam para as colmeias, conclui que o papel delas é recolher o mel. E aquele outro que estudou de perto a vida do enxame afirma que a abelha recolhe o pólen para o sustento das abelhas jovens e a criação da rainha e que o seu papel, por conseguinte, é o da conservação da espécie. O botânico observa que a abelha, transportando o pólen da planta dóica para o órgão feminino o fecunda, e nesta fecundação vê ele o papel do inseto. Outro, ao estudar as variações das plantas, descobre que a abelha contribui para essa variação e julga-se no direito de concluir que foi criada para desempenhar tal papel. Na realidade, nenhuma das observações que o espírito humano está em condições de fazer atende ao objetivo derradeiro da abelha. Quanto mais a inteligência procura erguer-se à compreensão das razões últimas, tanto mais evidente se torna para ele que essas razões lhe são inacessíveis.
 
Liev Tostoi

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