24 de junho de 2019

Culpa e expiação


- Você não teria me chamado se fosse inocente. A culpa é o único fardo que os seres humanos não conseguem suportar sozinhos. Assim que um crime é perpetrado, há uma chamada telefônica ou uma confissão a estranhos.
- Não houve crime nenhum.
- Só existe um alívio: confessar, ser apanhado, investigado, punido. Esse é o ideal de todo criminoso. Mas não é tão simples assim. Apenas metade do Eu quer expiar a culpa, para se libertar de seus tormentos. A outra metade da pessoa quer continuar a ser livre.
Assim, apenas a metade do Eu se rende, clamando "agarre-me", enquanto a outra metade cria obstáculos, dificuldades; procura escapar. É um flerte com a justiça. Se a justiça for ágil, seguirá o indício com a ajuda do criminoso. Caso contrário, o criminoso se encarregará da própria expiação.
- Isso é pior?
- Acho que sim. Penso que somos juízes mais severos dos nossos próprios atos do que os juízes profissionais. Julgamos nossos pensamentos, nossas intenções, nossas imprecações secretas, nossos ódios secretos, não apenas nossos atos. 
Ela desligou.
 
 Anaïs Nin

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