28 de maio de 2018

Sempre a mesma


De onde vem este ar que desanima,
Subindo como o mar ao rochedo despido?
Se o nosso coração já fez sua vindima,
Viver é um mal. É um segredo de todos conhecido.

Uma dor muito simples, nada misteriosa,
Como tua alegria a todos transparece,
Pára de procurar, ó bela curiosa!
E embora a tua voz seja doce, emudece!

Emudece, ignorante! Alma sempre aturdida,
Boca a rir infantil! Muito mais do que a Vida,
A Morte nos retém por sutis idílios.

Deixa meu coração embriagar-se de um mito,
Perder-se em teu olhar este sonho infinito,
E dormir para sempre à sombra dos teus cílios!

Charles Baudelaire

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