24 de outubro de 2016

Soss


Por tudo o que sabemos da antiga Mesopotâmia, torna-se evidente a suposição que certos números permitiam acesso a um conhecimento da ordem cósmica, e já em 3200 a.C., com o surgimento pela primeira vez de tabuletas escritas, eram empregados dois sistemas de numeração: o decimal e o sexagesimal. O último baseava-se no soss (60), por cuja unidade ainda medimos círculos e calculamos o tempo. Sessenta segundos fazem um minuto, 60 minutos um grau, 360 graus um círculo. O céu e a terra são medidos em graus. E no círculo do tempo, 60 segundos fazem um minuto, 60 minutos um hora. O ano mesopotâmico contava com 360 dias, de maneira que o círculo do tempo e o do espaço estivessem em harmonia, como duas perspectivas do mesmo princípio numérico. E no centro do círculo do espaço estavam os cinco pontos do zigurate sagrado – quatro ângulos voltados para os pontos cardeais e o topo para o céu – por meio dos quais a divindade vinha ao mundo, enquanto no círculo do tempo, igualmente, além dos 360 dias seculares, havia um festival que se prolongava por uma semana de cinco dias, durante a qual o ano velho morria e o novo nascia, e era restaurado o princípio da divindade na terra. Além do mais, como o dia em proporção ao ano, o ano também estava em proporção ao ano grande, e no final de tal era, ou ano grande, havia um dilúvio, uma dissolução e um reinício cósmicos.

Joseph Campbell

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...