24 de outubro de 2016

Nem só os navios afundam


O amor romântico é o maior sistema energético dentro da psique ocidental. Na nossa cultura, é - mais ainda que a própria religião - a arena em que homens e mulheres tentam conseguir transcendência, plenitude, êxtase e sentido para a vida.
Como fenômeno de massa, o amor romântico é peculiar ao Ocidente. Estamos tão acostumados a conviver com as crenças e as suposições do amor romântico, que o consideramos como a única forma de "amor" que pode gerar casamento e relacionamentos verdadeiros. Achamos que o amor romântico é o único "verdadeiro amor". Mas existem muitas outras coisas a este respeito que podemos aprender do Oriente. Nas culturas orientais, como a da Índia ou a do Japão, constatamos que os casais se amam com muita cordialidade, muitas vezes com uma devoção e uma estabilidade que desconhecemos.
Mas o amor deles não é o "amor romântico" como nós o conhecemos. Eles não impõem aos seus relacionamentos os mesmos ideais que impomos aos nossos, nem fazem exigências impossíveis ou alimentam expectativas como nós fazemos.
O amor romântico não é apenas uma forma de "amor", mas é todo um conjunto psicológico - uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas. Estas ideias, frequentemente contraditórias, coexistem no nosso inconsciente e, sem que percebamos, dominam nossos comportamentos e reações. Inconscientemente, predeterminamos como deve ser um relacionamento com outra pessoa, o que devemos sentir e mesmo o que devemos "lucrar com isso".
O amor romântico não significa apenas amar alguém; significa "estar apaixonado". Este é um fenômeno psicológico muito peculiar. Quando estamos "apaixonados", acreditamos ter encontrado o verdadeiro sentido da vida revelado num outro ser humano. Sentimos que finalmente nos completamos, que encontramos as partes que nos faltavam. A vida, de repente, parece ter atingido uma plenitude, uma vibração sobre-humana, que nos ergue acima do plano comum da existência. Para nós, estes são os sinais seguros do "amor verdadeiro". Este conjunto psicológico inclui uma exigência inconsciente de que o nosso amante ou cônjuge nos alimente continuamente com esta sensação de êxtase e de emoção intensa.
Com a típica presunção ocidental de estarmos sempre com a razão, achamos que o nosso conceito de "amor", o amor romântico, deva ser o melhor. Presumimos que, comparado a este, qualquer outro tipo de amor entre homens e mulheres seria frio e insignificante. Mas se nós, ocidentais, formos realistas, teremos de admitir que o nosso enfoque do amor romântico não está funcionando bem.
Apesar do êxtase que sentimos quando estamos "apaixonados", passamos boa parte do nosso tempo com uma profunda sensação de solidão, alienação e frustração causada pela nossa incapacidade de construir relacionamentos afetuosos, baseados em compromissos. Culpamos geralmente os outros por nos terem falhado; não nos ocorre que talvez sejamos nós que precisemos modificar nossas próprias atitudes inconscientes - as expectativas que alimentamos e as exigências que impomos aos nossos relacionamentos e às demais pessoas.
 
Robert Johnson

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