3 de outubro de 2023

Filosofia Perene


Eu tomo a Filosofia Perene como uma tradução em discurso verbal das implicações das imagens míticas. É por essa razão que as mesmas ideias podem ser encontradas nas filosofias místicas de todo o mundo. As continuidades que podemos reconhecer nos mitos aparecem também na filosofia. A ideia básica da filosofia é que as divindades são personificações simbólicas das próprias imagens que são você mesmo. E as energias que vêm de você próprio são as energias do universo. E, assim, deus está lá fora e também aqui dentro. Sim, o reino dos céus está dentro de você, mas também em todo lugar.
Mas assim como a ideia da divindade nessas tradições perenes é muito diferente da nossa ideia de divindade, também a ideia de consciência é diferente. Falando em divindades em termos adequados a essas tradições mitologicamente fundamentadas, digo que a divindade é a personificação da energia. É a personificação de uma energia que dá forma à vida. Toda a vida. A sua vida. A vida do mundo. E a natureza da personificação será determinada pelas circunstâncias históricas. A personificação é folclórica; a energia é humana. E assim as divindades provêm das energias. E elas são mensageiros e veículos, por assim dizer, das energias.
Há uma passagem maravilhosa no Upanixades Chandogya: "Venerar esse deus, venerar aquele deus, um deus após o outro - os que seguem essa lei não conhecem". Porque a fonte dos deuses está no seu próprio coração. Siga as pegadas até o centro e saiba que é de você que os deuses provêm.
Sonho, visão, deus. Os deuses do céu e do inferno são o que poderíamos chamar aspecto cósmico do sonho. E o sonho é o aspecto pessoal do mito. Sonho e mito pertencem à mesma ordem. E você e o seu deus são uma só coisa. Isso é você e o seu deus sonhado. E o seu deus não é o meu. Portanto, não tente impingi-lo a mim. Cada um tem a sua própria deidade e consciência.

Joseph Campbell

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