Houve um momento muito interessante, durante a Segunda Guerra Mundial, quando estávamos em guerra com o Japão, que me possibilitou entender algumas coisas. Um dos jornais de Nova York publicou uma fotografia de um dos guardiões da entrada do templo de Nara, no Japão, logo na saída de Tóquio.
E ali estava o guardião da entrada - o querubim colocado no portal do Jardim do Éden. E este guardião está de pé junto ao pórtico, enquanto o Buda está sentado sob a Árvore da Imortalidade da Vida. Mas a legenda da foto dizia: "Os japoneses adoram deuses como este!".
Muito bem, eles não adoram! Esse é um símbolo do seu próprio medo e o que o prende ao ego, e é isso que o mantém fora do Jardim, onde o Buda está sentado embaixo de uma árvore e sua mão direita diz: "Não tenha medo desses caras. Atravesse."
Subitamente passei a ver que o nosso deus era aparentemente aquele guardião do portal, pelo fato de ter colocado guardiões nos portais e nos dito enfaticamente que eles lá estão de fato e nós não devemos atravessá-lo. Isso modifica tudo.
Portanto, nossa religião é basicamente uma religião de exílio.
Segundo a tradição cristã, é como se Jesus tivesse atravessado o portal, comido o fruto da árvore, transformando-se na árvore, que é a da Crucificação. É esse o sentido do crucifixo. Entregar-se. deixar-se ir. Incorporar à nossa mentalidade a imortalidade divina, que está em nós e em todas as coisas.
E assim Jesus, preso na cruz, que é a segunda árvore do Jardim, equivale a Buda sentado sob a Árvore da Imortalidade da Vida, a árvore Bo. Bodhi significa "aquele que despertou para o fato de que ele é aquilo que busca conhecer". Literalmente, o ser eterno. As duas religiões são interessantes pois fomos ensinados que não somos um só com Jesus, mas ele é o nosso modelo e nós devemos segui-lo. Mas no Evangelho segundo Tomé, Jesus diz: "Aquele que bebe da minha boca torna-se como eu sou, e eu sou ele".
Essa é a diferença entre o budismo e o cristianismo. Portanto, estamos novamente no exílio. Não podemos ser Jesus. Mas na religião budista já somos o Buda, e apenas não sabemos disso.
Eu estava proferindo uma palestra sobre essa questão, dizendo que para o cristão devemos viver em termos do Cristo em nós, e algumas semanas depois uma senhora me procurou e contou que estava sentada perto de um padre e este dissera: "Isso é uma blasfêmia".
Bem, se isso é blasfêmia, em nome dos céus, do que é que estamos falando?
Joseph Campbell
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