Esse obsessivo culto da juventude não se explica por uma
razão única, mas tem nas leis do mercado um sólido esteio. Tornou-se um produto
rentável, que se multiplica incalculavelmente e vai da moda à indústria
química, dos hábitos de consumo à cultura de entretenimento, dos salões de
beleza à lipoaspiração, das editoras às farmácias. Resulta daí uma espécie de
código comportamental, uma ética subliminar, um jeito novo de viver. O mercado,
sempre oportunista, torna-se extraordinariamente amplo, quando os consumidores
das mais diferentes idades são abrangidos pelo denominador comum do “ser
jovem”. A juventude não é mais uma fase da vida: é um tempo que se imagina
poder prolongar indefinidamente.
São várias as consequências dessa idolatria: a decantada
“experiência dos mais velhos” vai para o baú de inutilidades, os que se recusam
a aderir ao padrão triunfante da mocidade são estigmatizados e excluídos, a
velhice se torna sinônimo de improdutividade e objeto de caricatura. Prefere-se
a máscara grotesca do botox às rugas que os anos trouxeram, o motociclista
sessentão se faz passar por jovem, metido no capacete espetacular e na roupa de
couro com tachas de metal.
É natural que se tenha medo de envelhecer, de adoecer, de definhar,
de morrer. Mas não é natural que reajamos à lei da natureza com tamanha carga
de artifícios. Diziam os antigos gregos que uma forma sábia de vida está na
permanente preparação para a morte, pois só assim se valoriza de fato o
presente que se vive. Pode-se perguntar se, vivendo nesta ilusão da eterna
juventude, os homens não estão se esquecendo de experimentar a plenitude
própria de cada momento de sua existência, a dinâmica natural de sua vida
interior.
Bráulio Canuto
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