A crítica de Arquíloco eleva-se a uma aguda luta de princípios. Apregoavam os poetas, desde Homero, que a polis guardava na lembrança e honrava, mesmo depois da morte, o nome dos que a tinham servido, como recompensa certa pelo serviço prestado. Mas, na verdade, "ninguém, depois de morto, é honrado ou famoso na memória dos seus concidadãos; toda a vida nos empenhamos por alcançar o favor dos vivos; os mortos, porém, coitados deles!". Outro fragmento mostra bem o que isto quer dizer. O poeta medita sobre a baixa maledicência que até nos lugares mais recônditos persegue a quem já não é preciso temer. "É vergonhoso injuriar os mortos". Quem penetra assim na psicologia da fama e conhece a baixeza da grande massa perde todo o respeito à voz comum. Já Homero ensinava que o espírito do homem é tão mutável como os dias que Zeus ilumina. Arquíloco aplica ao mundo da vida que o rodeia esta sabedoria homérica. Que grandes coisas se podem esperar de criaturas assim, cuja vida é um só dia? A ética da antiga nobreza venerava a Fama como uma força superior, porque tinha dela uma ideia muito diferente: a honra das grandes façanhas e o jovial reconhecimento no círculo dos espíritos nobres. Transferida para a massa invejosa, que mede tudo que é grande pela sua própria e acanhada medida, perde qualquer sentido. Assim, o novo espírito da polis suscita a crítica pública, como prevenção necessária contra a maior liberdade de palavra e de ação.
Werner Jaeger
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