14 de julho de 2020

Solitude


Fico imensamente feliz por ter descoberto que trago paciência em minha alma por tanto tempo, que não desejo as coisas materiais e não preciso de nada mais que livros e a possibilidade de escrever e de estar sozinho por algumas horas todos os dias. Esse último desejo é o que mais me angustia. Por quase cinco anos tenho estado sob constante vigilância, ou com várias outras pessoas, e nem uma hora sequer sozinho comigo mesmo. Estar só é um estado natural, como comer e dormir; nessa forma concentrada de comunismo, qualquer um se torna um inimigo ferrenho da humanidade. A constante companhia de outros funciona como um veneno ou uma praga; e desse martírio sem fim é que eu sofri nos últimos quatro anos. Houve momentos em que odiei a cada homem, fosse bom ou ruim, e tomei-o como um ladrão que, impune, me roubasse continuamente a vida. A parte mais insuportável é quando nos tornamos injustos, maliciosos e maus - é repugnante, temos consciência disso, reprovamos a nós mesmos e ainda assim não temos o poder de nos controlarmos. Já passei por isso várias vezes.
 
Fiodor Dostoievski

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