Muitas devotas acordavam antes das cinco da manhã e, nos seus longos vestidos escuros, seguiam pela madrugada cinzenta para ir se ajoelhar na fria nave da igreja, com sua visão periférica protegida por lenços amarrados ao queixo, puxados bem para a frente. Elas enterravam o rosto nas mãos avermelhadas e oravam, contavam histórias para Deus, conseguiam alcançar a paz, a força e o insight. De vez em quando, minha tia Katerin me levava com ela. Quando um dia eu lhe disse: "É tão calmo e bonito aqui", ela piscou enquanto fazia com que eu me calasse. "Não conte para ninguém. É um segredo importantíssimo." E era mesmo, porque o trajeto até a igreja na madrugada e o interior sombrio da nave eram os dois únicos lugares naquela época em que era proibido perturbar a mulher.
Clarissa Pinkola Estés
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