Mencionemos agora a influência do tiro de fuzil dado à meia-noite em uma mangueira. A ingenuidade supersticiosa do fazendeiro, para conseguir uma colheita feliz durante o ano, implora a proteção de São João dando um tiro de fuzil numa mangueira, à meia-noite em ponto, na véspera do dia do santo protetor. Para justificar essa superstição, parece que existe apenas a vantagem de fazer cair certa quantidade de frutos, beneficiando assim os que tiverem escapado ao chumbo da espingarda; talvez essa vantagem seja a de afugentar, pelo estampido, os malandros que se dedicam ao roubo noturno.
E termino com a moedinha jogada no braseiro, na véspera de São João.
A cena se passa sempre à meia-noite, mas, desta feita, na rua, diante de uma dessas pequenas fogueiras acesas na frente das casas particulares habitadas por pessoas que tenham o nome do santo. À devoção das moças, que no mundo inteiro se reduz a pedir aos céus a conservação dos pais, a posse de um namorado fiel e um casamento vantajoso, se ajunta, no Brasil, a inapreciável prerrogativa de uma correspondência direta com São João, cuja resposta é dada por meio de certa prática supersticiosa. Esta consiste em jogar um vintém no braseiro ardente, à meia-noite em ponto, retirar em seguida a moeda, depois de apagado o fogo, e conservá-la cuidadosamente até o ano seguinte, para dá-la ao primeiro pobre que se apresente na mesma época à meia-noite. Pergunta-se a esse homem o seu nome, o qual, por analogia, deve indicar infalivelmente o do futuro marido que o céu destina à jovem crente.
Para julgar das probabilidades desse cálculo supersticioso, é preciso ter em vista que o nome do brasileiro se acompanha sempre de vários prenomes, que começam, entretanto, naturalmente, por João, José, Antônio ou Pedro; a vulgaridade desses nomes abre vasta perspectiva para as moças em relação à assiduidade dos rapazes de sua sociedade.
Jean Baptiste Debret
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