23 de outubro de 2016

Sussurros


Os que precisam atravessar o deserto de Lop descansam na cidade de Lop, durante uma semana, para refazer as próprias forças e a dos animais. Depois, abastecem-se fartamente, levando víveres para um mês, para si e para os animais.
Saindo-se desta cidade, entra-se no deserto, tão grande que se leva um ano para cruzá-lo, mas quem conhece os atalhos pode atravessá-lo em um mês. É todo montanhoso, de areião e de vales. Nada se encontra de comestível; no entanto, após um dia e uma noite de cavalgada acha-se água, mas não muita. Basta apenas para aplacar a sede de cinquenta ou cem homens com seus animais; assim é pelo deserto todo. A cada dia e a cada noite encontra-se água. Em três ou quatro lugares a água é amarga e salobra, mas nas outras fontes, que são vinte e oito, é boa.
Não existem animais nem pássaros, porque não há o que comer. Contudo, encontra-se aqui algo maravilhoso. Se alguém, cavalgando à noite pelo deserto, afastar-se dos companheiros, para dormir ou para o que quer que seja, ao tentar alcançá-los ouve vozes de espíritos, como se fossem seus companheiros; e é chamado pelo próprio nome, de tal forma que facilmente se desvia da rota, para nunca mais ser encontrado. Às vezes, ouve-se tocar instrumentos e mais especificamente tambores. Dessa forma se atravessa o grande deserto.
 
Marco Polo

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