1 de agosto de 2019

Medicina e saúde


A relação entre medicina e saúde é difícil de ser avaliada porque a maioria das estatísticas sobre saúde usa o limitado conceito biomédico de saúde, definindo-o como ausência de doença. Uma avaliação significativa envolveria a saúde do indivíduo e a saúde da sociedade; teria que incluir doenças mentais e patologias sociais. Tal concepção abrangente mostraria que, embora a medicina tenha contribuído para a eliminação de certas doenças, isso não restabeleceu necessariamente a saúde. Na concepção holística de doença, a enfermidade física é apenas uma das numerosas manifestações de um desequilíbrio básico do organismo. Outras manifestações podem assumir a forma de patologias psicológicas e sociais; e quando os sintomas de uma enfermidade física são efetivamente suprimidos por intervenção médica, uma doença pode muito bem expressar-se de algum outro modo
Com efeito, as psicopatias e sociopatias tornaram-se agora importantes problemas de saúde pública. De acordo com algumas pesquisas, cerca de 25 por cento da população norte-americana é psicologicamente perturbada e pode ser considerada seriamente deficiente e carente de atenção terapêutica. Ao mesmo tempo, verifica-se um aumento alarmante do alcoolismo, dos crimes violentos, dos acidentes e suicídios, todos sintomas de saúde social precária. Analogamente, os sérios problemas de saúde infantil atuais têm sido vistos como indicadores de doença social.
(...)
Ao examinar-se a relação entre medicina e saúde, também é necessário entender que existe um vasto espectro de medicina, da clínica geral à medicina de emergência, da cirurgia à psiquiatria. Em algumas dessas áreas, a abordagem biomédica têm sido extremamente bem sucedida, ao passo que em outras mostrou-se um tanto ineficaz. O grande êxito da medicina de emergência ao lidar com acidentes, infecções agudas e nascimentos prematuros é bem conhecido. Quase todas as pessoas conhecem alguém cuja vida foi salva, ou cuja dor e aflição foram extraordinariamente reduzidas, graças à intervenção médica. De fato, nossa moderna tecnologia médica é soberba ao lidar com essas emergências. Mas, embora tal assistência médica possa ser decisiva em casos individuais, parece não fazer uma diferença significativa para a saúde das populações como um todo. A grande publicidade dada a procedimentos médicos tão espetaculares quanto a cirurgia de coração aberto e os transplantes de órgãos tende a fazer-nos esquecer que muitos desses pacientes não teriam sido hospitalizados se medidas preventivas não tivessem sido gravemente negligenciadas.

Fritjof Capra

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