Havia uma floresta espessa num dos lados da aldeia onde minha avó morava e fazendas de café no outro. Um rio corria da floresta até os limites da cidade, passando pela área onde se concentravam as palmeiras e chegando a um pântano. Acima do pântano, plantações de banana se espalhavam pelo horizonte. A principal estrada de terra que passava por Karbati era trilhada por buracos e atoleiros onde os patos gostavam de tomar banho durante o dia, e nos quintais das casas os pássaros descansavam em mangueiras.
De manhã, o sol subia detrás da floresta. Primeiro, seus raios surgiam por entre folhas de árvores e, gradualmente, com o canto dos galos e pardais que vigorosamente anunciavam a luz do dia, o sol dourado acomodava-se acima da floresta. Ao anoitecer, macacos podiam ser vistos pulando de árvore em árvore na floresta, retornando aos locais onde dormiam. Nas fazendas de café, galinhas estavam sempre ocupadas escondendo suas crias de falcões. Atrás das fazendas, palmeiras sacudiam sua folhagem ao vento. Às vezes avistava-se, no fim da tarde, alguém que escalava uma palmeira para colher sua seiva, que seria depois transformada em licor.
O entardecer terminava com o som de galhos se quebrando na floresta e de arroz sendo triturado por pilões. O eco ressoava na aldeia, fazendo com que os pássaros voassem para lá e para cá chilreando. Grilos, rãs, sapos e corujas faziam coro, todos chamando pela noite enquanto deixavam seus esconderijos. As cozinhas das casas de sapê soltavam fumaça, e as pessoas chegavam das fazendas carregando lampiões e às vezes tocos de madeira acesa.
"Devemos nos esforçar para ser como a lua." Um ancião em Karbati sempre repetia essa frase para as pessoas que passavam por sua casa para buscar água, caçar ou colher seiva nas palmeiras, e também aos que caminhavam de volta a suas fazendas. Eu me lembro de ter perguntado a minha avó o que o ancião queria dizer com aquilo. Ela explicou que o ditado servia para lembrar as pessoas de se comportarem sempre da melhor forma possível e serem boas umas com as outras. Ela disse que as pessoas sempre reclamam quando o sol as castiga demais e está intoleravelmente quente, e também quando chove demais ou está frio. Mas, ela falou, ninguém se queixa quando a lua brilha. Todos ficam felizes e apreciam a lua, cada um a seu modo. As crianças brincam com suas sombras sob a luz da lua, as pessoas se juntam para contar histórias e dançar noite adentro. Muitas coisas boas acontecem quando a lua brilha. Essas são algumas das razões pelas quais devemos desejar ser como a lua.
- Você está com cara de fome. Vou te preparar uma mandioca - disse ela terminando a conversa.
Depois que minha avó me contou por que devíamos nos esforçar para sermos como a lua, passei a observá-la. Toda noite em que a lua aparecia no céu eu me deitava no chão e ficava quieto, olhando para ela. Queria descobrir por que era tão atraente e adorada. Fiquei fascinado com os diferentes desenhos que distinguia dentro da lua. Certas noites eu conseguia ver a cabeça de um homem. Ele tinha uma barba de tamanho mediano e usava um chapéu de marinheiro. Noutras ocasiões eu via um homem com um machado cortando madeira, e às vezes uma mulher ninando um bebê no peito. Sempre que tenho uma chance de observar a lua agora, ainda vejo as mesmas imagens que enxergava quando tinha seis anos, e me agrada saber que aquela parte da minha infância ainda está guardada em mim.
De manhã, o sol subia detrás da floresta. Primeiro, seus raios surgiam por entre folhas de árvores e, gradualmente, com o canto dos galos e pardais que vigorosamente anunciavam a luz do dia, o sol dourado acomodava-se acima da floresta. Ao anoitecer, macacos podiam ser vistos pulando de árvore em árvore na floresta, retornando aos locais onde dormiam. Nas fazendas de café, galinhas estavam sempre ocupadas escondendo suas crias de falcões. Atrás das fazendas, palmeiras sacudiam sua folhagem ao vento. Às vezes avistava-se, no fim da tarde, alguém que escalava uma palmeira para colher sua seiva, que seria depois transformada em licor.
O entardecer terminava com o som de galhos se quebrando na floresta e de arroz sendo triturado por pilões. O eco ressoava na aldeia, fazendo com que os pássaros voassem para lá e para cá chilreando. Grilos, rãs, sapos e corujas faziam coro, todos chamando pela noite enquanto deixavam seus esconderijos. As cozinhas das casas de sapê soltavam fumaça, e as pessoas chegavam das fazendas carregando lampiões e às vezes tocos de madeira acesa.
"Devemos nos esforçar para ser como a lua." Um ancião em Karbati sempre repetia essa frase para as pessoas que passavam por sua casa para buscar água, caçar ou colher seiva nas palmeiras, e também aos que caminhavam de volta a suas fazendas. Eu me lembro de ter perguntado a minha avó o que o ancião queria dizer com aquilo. Ela explicou que o ditado servia para lembrar as pessoas de se comportarem sempre da melhor forma possível e serem boas umas com as outras. Ela disse que as pessoas sempre reclamam quando o sol as castiga demais e está intoleravelmente quente, e também quando chove demais ou está frio. Mas, ela falou, ninguém se queixa quando a lua brilha. Todos ficam felizes e apreciam a lua, cada um a seu modo. As crianças brincam com suas sombras sob a luz da lua, as pessoas se juntam para contar histórias e dançar noite adentro. Muitas coisas boas acontecem quando a lua brilha. Essas são algumas das razões pelas quais devemos desejar ser como a lua.
- Você está com cara de fome. Vou te preparar uma mandioca - disse ela terminando a conversa.
Depois que minha avó me contou por que devíamos nos esforçar para sermos como a lua, passei a observá-la. Toda noite em que a lua aparecia no céu eu me deitava no chão e ficava quieto, olhando para ela. Queria descobrir por que era tão atraente e adorada. Fiquei fascinado com os diferentes desenhos que distinguia dentro da lua. Certas noites eu conseguia ver a cabeça de um homem. Ele tinha uma barba de tamanho mediano e usava um chapéu de marinheiro. Noutras ocasiões eu via um homem com um machado cortando madeira, e às vezes uma mulher ninando um bebê no peito. Sempre que tenho uma chance de observar a lua agora, ainda vejo as mesmas imagens que enxergava quando tinha seis anos, e me agrada saber que aquela parte da minha infância ainda está guardada em mim.
Ishmael Beah
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