26 de outubro de 2016

Pontos de partida, ponto de chegada


Assim é que eu me lembro de ter promovido o encontro de um padre abade beneditino com um lama tibetano. Eles passaram uma semana inteira, inicialmente num mosteiro de Kergonan, na Bretanha, em seguida num centro tibetano de Dhagpo Kagyu Ling, na Dordonha. Eles começaram abordando questões teológicas gerais relacionadas ao budismo e ao catolicismo: nesse aspecto, eles não concordavam em nada! A ideia de um Deus pessoal criador que se revela falando aos profetas parecia impensável ao lama, do mesmo modo que a ideia de uma religião sem Deus parecia incongruente ao monge cristão. Em seguida, ao final de três dias, eles começaram a falar de sua experiência espiritual pessoal e nesse pontos eles concordavam em quase tudo! Um e outro falavam da necessidade do silêncio interior, do guia espiritual, da confiança e da fé, dos obstáculos do ego a vencer, da importância da concentração e da atenção, do amor e da compaixão que se situam no ponto de partida e no ponto de chegada da busca espiritual. Certamente as palavras variavam às vezes, as técnicas também, mas sentia-se que, no fundo, falavam a mesma linguagem: a linguagem dos que vivem uma experiência espiritual concreta, que escalam a mesma montanha, não importando o nome que lhe seja dado e o atalho escolhido. Há uma fonte divina da qual beberam os místicos de todas as religiões e a partir da qual eles se comunicam no silêncio e na alegria da contemplação, e, bem lá atrás, a uma distância suficiente para terem certeza de não serem molhados pela água, há os teólogos, os guardiões do templo e os doutores dessas mesmas religiões que brigam indefinidamente para saber se a água dessa fonte é gasosa ou não, calcária ou não, mineral ou não. Há pontos em comum extremamente surpreendentes e que, em minha opinião, revelam certa universalidade do espírito humano. Todos os que escavam de maneira profunda em si numa procura sincera pela verdade acabam descobrindo a mesma coisa, ou coisas muito semelhantes. Por exemplo, a maioria dos místicos descobre em determinado momento o que eles chamam, de um modo ou de outro, seu próprio “nada”. E em vez de ficarem totalmente desesperados com essa descoberta, eles são, ao contrário, impulsionados por um amor que os invade e os mergulha na alegria, uma alegria indizível. Porque eles sentem, então, o amor universal que transcende toda aparência, todo sentimento identitário, toda dualidade, toda convenção.
 
Frederic Lenoir

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