Pangloss ensinava metafísica, teologia e cosmologia. Provava de forma estupenda que não existe efeito sem causa e que, neste, que é o melhor dos mundos possível, o castelo do barão era o mais bonito possível e a senhora, a melhor possível das baronesas.
- Está provado - dizia ele - que as coisas não podem ser de outro modo: pois, como tudo foi criado para uma finalidade, tudo está necessariamente destinado à melhor finalidade. Notem que o nariz existe para nele apoiarmos os óculos, e por isso nós temos óculos. As pernas foram claramente criadas para as calças, e é por isso que temos calças. As pedras foram feitas para serem talhadas e construir castelos, e por isso o monsenhor possui um maravilhoso castelo; o mais ilustre barão da província deve ser o mais bem acomodado; e como os porcos foram feitos para serem comidos, nós comemos porco o ano inteiro; por conseguinte, aqueles que afirmaram que tudo está bem disseram uma paspalhice; deveriam ter dito que tudo está o melhor possível.
Certo dia em que passeava nas cercanias do castelo, pelo pequeno bosque ao qual denominavam parque, Cunegundes viu entre as moitas o dr. Pangloss, que estava ministrando uma aula de física experimental à camareira de sua mãe, uma linda e dócil moreninha. Por possuir a srta. Cunegundes grande inclinação para as ciências, observou, prendendo a respiração, as repetidas experiências de que foi testemunha; viu com toda clareza a razão suficiente do doutor, os efeitos e as causas, e voltou toda agitada e pensativa, cheia de desejos de se tornar sábia, e pensando que bem poderia ela ser a razão suficiente do jovem Cândido, o qual também podia ser a sua.
Encontrou Cândido quando regressou ao castelo, e corou; Cândido também corou; ela cumprimentou-o com voz entrecortada, e Cândido falou-lhe sem saber o que dizia. No dia seguinte, após o jantar, Cunegundes e Cândido encontraram-se atrás de um biombo; Cunegundes deixou cair o lenço, Cândido pegou-o, ela tomou-lhe inocentemente a mão, o rapaz beijou inocentemente a mão da jovem com uma vivacidade, uma intensidade e uma elegância especiais; suas bocas encontraram-se, seus olhos resplandeceram, seus joelhos tremeram, suas mãos perderam-se... O Barão de Thunder-ten-tronckh passou ao lado do biombo e, vendo aquela causa e aquele efeito, expulsou Cândido do castelo a pontapés no traseiro; Cunegundes desfaleceu; quando recuperou a consciência, foi esbofeteada pela baronesa; e houve o maior desalento no mais bonito e mais agradável dos castelos possíveis.
- Está provado - dizia ele - que as coisas não podem ser de outro modo: pois, como tudo foi criado para uma finalidade, tudo está necessariamente destinado à melhor finalidade. Notem que o nariz existe para nele apoiarmos os óculos, e por isso nós temos óculos. As pernas foram claramente criadas para as calças, e é por isso que temos calças. As pedras foram feitas para serem talhadas e construir castelos, e por isso o monsenhor possui um maravilhoso castelo; o mais ilustre barão da província deve ser o mais bem acomodado; e como os porcos foram feitos para serem comidos, nós comemos porco o ano inteiro; por conseguinte, aqueles que afirmaram que tudo está bem disseram uma paspalhice; deveriam ter dito que tudo está o melhor possível.
Certo dia em que passeava nas cercanias do castelo, pelo pequeno bosque ao qual denominavam parque, Cunegundes viu entre as moitas o dr. Pangloss, que estava ministrando uma aula de física experimental à camareira de sua mãe, uma linda e dócil moreninha. Por possuir a srta. Cunegundes grande inclinação para as ciências, observou, prendendo a respiração, as repetidas experiências de que foi testemunha; viu com toda clareza a razão suficiente do doutor, os efeitos e as causas, e voltou toda agitada e pensativa, cheia de desejos de se tornar sábia, e pensando que bem poderia ela ser a razão suficiente do jovem Cândido, o qual também podia ser a sua.
Encontrou Cândido quando regressou ao castelo, e corou; Cândido também corou; ela cumprimentou-o com voz entrecortada, e Cândido falou-lhe sem saber o que dizia. No dia seguinte, após o jantar, Cunegundes e Cândido encontraram-se atrás de um biombo; Cunegundes deixou cair o lenço, Cândido pegou-o, ela tomou-lhe inocentemente a mão, o rapaz beijou inocentemente a mão da jovem com uma vivacidade, uma intensidade e uma elegância especiais; suas bocas encontraram-se, seus olhos resplandeceram, seus joelhos tremeram, suas mãos perderam-se... O Barão de Thunder-ten-tronckh passou ao lado do biombo e, vendo aquela causa e aquele efeito, expulsou Cândido do castelo a pontapés no traseiro; Cunegundes desfaleceu; quando recuperou a consciência, foi esbofeteada pela baronesa; e houve o maior desalento no mais bonito e mais agradável dos castelos possíveis.
Voltaire
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