Ele próprio tem de ser doente, tem de ser aparentado desde o fundamento aos doentes e enjeitados, para entendê-los - para se entender com eles; mas tem também de ser forte, mais senhor ainda sobre si do que sobre os outros, ileso, em especial, em sua vontade de potência, para ter a confiança e o medo dos doentes, para poder ser para eles amparo, resistência, esteio, coação, mestre de disciplina, tirano, Deus. Tem de defendê-lo, ao seu rebanho - contra quem? Contra os sadios, não há dúvida nenhuma, e também contra a inveja aos sadios; tem de ser o oponente e desdenhador de toda tosca, tempestuosa, desenfreada, dura, violenta saúde e potencialidade. Ele traz unguento e bálsamo consigo, não há dúvida nenhuma; mas primeiro necessita ferir para depois ser médico; quando, em seguida, aquieta a dor que a ferida causa, ele envenena ao mesmo tempo a ferida - pois disso sobretudo ele entende, esse feiticeiro e domador de animais de rapina, ao redor do qual todo sadio se torna necessariamente doente e todo doente necessariamente manso.
Friedrich Nietzsche
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