Temos a questão do que teria acontecido em Jerusalém no ano 30 d.C. Será que realmente aconteceu? E o que é que isso tem a ver com outros eventos?
Há uma pequena e maravilhosa história que Daisetz Suzuki, o filósofo Zen, contou, em uma de suas palestras sobre o Zen. Um jovem pergunta a seu guru: "Será que possuo a consciência de Buda?", e o guru diz: "Não". E o jovem continua: "Bem, eu ouvi dizer que todas as coisas possuem a consciência de Buda, as pedras, as árvores, as flores, os pássaros, os animais, e todos os seres".
"Sim", diz o Mestre, "tens razão. Todas as coisas possuem a consciência de Buda. As pedras, as flores, as abelhas, os pássaros, mas tu não tens."
"Por que eu não tenho?"
"Porque estás fazendo essa pergunta."
O que quer dizer que, em vez de viver na consciência de si mesmo a partir daquela fonte transcendente, ele vive na consciência de si mesmo como uma unidade separada. E isso o lança fora. Portanto, ele não está vivendo pela sua consciência de Buda.
Agora aqui vai o truque usado pelo artista: apresentar o seu material de tal forma que não coloque um anel em torno de si próprio e fique ali como separado de você, o observador. E aquele "Ah!" obtido quando se vê uma obra de arte que realmente nos atinge, aquele "Eu sou isso!", eu sou o resplendor e a energia que está falando a mim, por meio desse objeto. Em termos puramente empíricos isso se chama participação. Mas é mais do que isso: é identificação.
Vocês sabem que os hindus perguntam: "Quem sou eu?". Uma pergunta que requer muita disciplina. Sou eu este corpo? Uma vez eu estava proferindo uma palestra sobre budismo a um grupo de rapazes de escola secundária e pensava: como vou passar esta ideia a eles? Porque aquilo que chamamos consciência de Buda é a consciência da qual todos nós somos manifestações. Nós todos somos coisas de Buda. Nós todos somos manifestações separadas dessa grande consciência que informa todo o universo. As plantas são conscientes. As pedras são conscientes. Todas as coisas são conscientes.
Então eu disse aos rapazes: Olhem para o teto. Vocês podem dizer que as luzes, no plural, estão acesas, ou podem dizer que a luz está acesa. São duas maneiras de dizer exatamente a mesma coisa. A frase As luzes estão acesas acentua o veículo individual, a lâmpada, ao passo que a luz está acesa acentua a luz em geral. Mas são duas formas de dizer exatamente a mesma coisa".
No Japão o foco sobre a coisa individual é chamado ji hokai, ou o reino individual, e o foco sobre o que é geral é chamado ri hokai, o reino geral. E há um pequeno ditado assim: ji-ri-um-ge [individual, geral, nenhuma obstrução. Nenhuma diferença].
Portanto, quando uma lâmpada queima, o zelador do edifício ou do parque não vem dizer: "Ah, eu gostava especialmente daquela lâmpada. Ela era importante. Isto é uma calamidade". Ele tira a lâmpada e a substitui por outra.
O que é importante? É a luz ou o seu veículo? Eles são os veículos da consciência. Então, qual deles são vocês? A cabeça ou a consciência? Com o que vocês se identificam? Com o veículo ou com aquilo que é conduzido? E se você pode se identificar com aquilo que é conduzido, isto é, a consciência, é a consciência que está em todas as lâmpadas. E assim você está se identificando com o que é o princípio unificador, e é com esse princípio que se identifica a pessoa que se dispõe a salvar espontaneamente outra pessoa. Esses são os dois enfoques para a percepção de que a separação é secundária e separação é uma função da experiência no tempo e no espaço.
Joseph Campbell
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