1 de maio de 2018

Tempo presente


Jamais nos atemos ao tempo presente. Antecipamos o futuro, que nos parece demasiado lento a chegar, como se quiséssemos apressar a sua vinda; ou recordamos o passado como se quiséssemos retê-lo, por se afastar com excessiva rapidez: tão imprudentes que vagueamos através de outros tempos que não são os nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão fúteis que pensamos naqueles que já nada são e escapamos sem refletir ao único que subsiste. É que o presente de ordinário nos ofende. Ocultamo-lo às nossas vistas porque nos aflige; e, se porventura nos é agradável, vemo-lo fugir com tristeza. Procuramos sustê-lo por meio do futuro e pensamos em dispor de coisas que não dependem de nós para um tempo a que não temos nenhuma certeza de chegar.
Que cada um examine os seus pensamentos: encontrá-los-á completamente ocupados com o passado e o futuro. Quase não pensamos no presente; e quando o fazemos, é apenas para planejar o futuro à sua luz. O presente nunca é o nosso fim: passado e presente são nossos meios, e só o futuro é nosso fim. De sorte que nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos constantemente para ser felizes, é inevitável que não o sejamos jamais.

Blaise Pascal

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