O velho barril de água termina também sua carreira com funções vergonhosas, com maiores inconvenientes, porém, no transporte, inconvenientes que escandalizam as modistas e as negociantes francesas da Rua do Ouvidor. Acontece, com efeito, que o peso enorme suportado pelo fundo velho do barril, o qual recebe em cada passo do carregador uma ligeira sacudidela, acaba desconjuntando as três ou quatro tábuas, já podres e sem elasticidade, que cedem, enfim, deixando escapar o conteúdo infecto, que espirra por todos os lados. Mas não é tudo: nessa desagradável ocorrência, as paredes do barril, ainda ligadas com aros de ferro, escorregam e encaixam o negro desde os ombros até os punhos. Assim, repentinamente couraçado, descobrem-se somente a cabeça e as pernas do pobre escravo abobado com as novas cores de que se vê de repente coberto. Essa desventura constitui uma alegria para os companheiros e é assinalada por mil assobios agudos, gritos e palmas de todos que o cercam. Acordado de sua estupefação por esse barulho generalizado, o negro toma as disposições necessárias para sair de seu barril e recolher os pedaços esparsos. Após a manifestação de alegria, os outros partem correndo, e o desgraçado, assim isolado, torna-se o ponto de mira dos vizinhos, que, fechando o nariz, lançam contra ele seus próprios negros armados de utensílios, que lhe são emprestados para recolher pouco a pouco os restos imundos disseminados pela calçada. Obrigam-no ainda, após esse trabalho penoso e longo, a jogar vários barris de água, a varrer e, não raro, a limpar com esponja as vitrinas da loja que seu fardo sujou. Com todas essas precauções, quase não basta a noite para que se evaporem completamente os miasmas, circunstância desagradável, que priva as moças da loja atingida das amáveis visitas que lhes encantam as noitadas; e a circunstância é tanto mais aflitiva quanto dá origem a chacotas e zombarias que circulam durante, pelo menos, oito dias em todas as outras lojas do Rio de Janeiro.
Terminado esse penoso trabalho, entre imprecações de todos, o infeliz carregador vai lavar-se na praia, bem como limpar as tábuas desconjuntadas de seu barril. Finalmente, após três horas de ausência, volta para a casa do amo, onde, por cúmulo de infelicidade, é submetido ao castigo reservado aos desastrados, castigo pelo qual o proprietário do barril velho pensa mascarar a sua sordidez.
Jean Baptiste Debret
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