4 de setembro de 2017

Escravos carregadores


Os carregadores de café andam geralmente em magotes de dez ou vinte negros sob a direção de um que se intitula capitão. São em geral os latagões mais robustos dentre os africanos. Quando em serviço, raramente usam outra peça de roupa além de um calçãozinho curto; põem de lado a camisa, para não incomodar. Cada um leva na cabeça uma saca de café pesando setenta e três quilos e, quando todos estão prontos, partem num trote cadenciado que se logo se transforma em carreira.
Sendo suficiente apenas uma das mãos para equilibrar o saco, muitos deles levam, na outra, instrumentos parecidos com chocalhos de criança, que sacodem marcando o ritmo de alguma canção selvagem de suas pátrias distantes. A música tem, em elevado grau, a faculdade de espairecer o espírito dos negros, e, naturalmente que ninguém lhes pretenderia negar o direito de suavizar sua dura sorte cantando essas todas que lhes são tão caras quão desagradáveis aos ouvidos dos outros. Consta que certa vez se pretendeu proibir que os negros cantassem, para não perturbar o sossego público. Diminuiu, porém, de tal forma a sua capacidade de trabalho que a medida foi logo suspensa. Em compensação eles agora exibem livremente seus dons vocais cantando e gritando de um para outro enquanto trotam, ou apregoando os artigos que oferecem à venda. Não é fácil ao forasteiro esquecer a impressão que lhe causa o alarido confuso de centenas de vozes simultâneas. 

Daniel Kidder

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