22 de outubro de 2016

Sexo na Roma Antiga


Em Roma, a união conjugal podia ou não, indiferentemente, coincidir com a amor. De qualquer forma, a exibição pública do enamoramento era considerada indecente. Um senador chegou a perder o mandato pelo fato de ter beijado a mulher, em pleno dia, diante da filha. Assim, o casamento romano era geralmente feito de indiferença. Os esposos raramente compartilhavam o mesmo quarto e os encontros eram limitados à procriação. As mulheres abstinham-se de relações sexuais durante a gravidez e no período de aleitamento, que podia alongar-se por dois ou três anos. Uma boa esposa era a fiel ao marido: não devia traí-lo, nem manifestar comportamento chocante em público ou aliar-se a seus adversários políticos. A lealdade das esposas muitas vezes significava uma dura prova, quando elas eram estéreis. As que sabiam esquecer e aceitar um repúdio temporário, para que o marido acolhesse um ventre fecundo, eram celebradas como heroínas. O mesmo valia para aquelas que não demonstravam ciúmes das concubinas, libertas ou escravas, nem se aproveitavam de sua situação para persegui-las.
Salvo nas comedidas relações entre esposos, o lar romano era um lugar de intensa vida sexual. Todos os escravos eram parceiros potenciais dos homens livres da casa. As interdições não se referiam ao sexo nem à idade, mas ao estatuto jurídico do parceiro, da mesma forma que as ligações não pressupunham relações duradouras nem compromissos e laços. Pura manifestação da natureza, como dormir ou alimentar-se, a sexualidade era praticada livremente, mas os romanos consideravam indecoroso referir-se a ela. Dela convinha falar o menos possível e não transformá-la em uma das belas-artes, como entre os gregos. A lei reprimia contatos fora do casamento se implicassem pagamento em dinheiro e subjugação. Virgem, mulher ou rapaz, pouco importa, o crime de estupro (stuprum) era considerado hediondo, a ponto de levar a pessoa acusada à pena de morte.
De resto, tudo era permitido, sem distinção de sexo ou de idade, porém com reservas: o excesso de prazer amoroso, como todos os outros excessos, era tido como uma falta moral. Quando, por exemplo, um romano respeitava a recusa de um escravo ou de uma escrava ao ato de amor não era que respeitasse nele ou nela o ser humano: fazia-o no intuito de aprender a disciplinar suas próprias paixões, do mesmo modo que se esforçava por dominar sua ira contra um servo negligente. Tratava-se sempre de uma relação consigo, não com o outro.
Embora os casamentos fossem proibidos, na esfera do vetado por incesto, no interior das casas as pessoas viviam relações bastante complexas e de consanguinidade. Os filhos estavam cercados por gente que havia sido, era ou poderia ser amante do pater familias. O que na atualidade se caracteriza como incesto era praticado com frequência e sem escândalo na Roma antiga. O pai podia ter relações com alguém que tivesse sido gerado por uma de suas servas e, portanto, era seu filho ou filha. Da mesma forma, os filhos deitavam-se com as irmãs e irmãos não reconhecidos mas de fato. Mas a sexualidade continuava discreta, momentânea e às vezes coincidia com tamanho estreitamento de laços que levava um senhor a alforriar um escravo. Na casa, o que contava não era nem o amor nem o desejo, mas a fidelidade, a fides.

Florence Dupont

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