Quem poderia fotografar, registrar, tatear o instante em que algo rompe entre duas pessoas? Quando aconteceu? De noite, enquanto dormíamos? No almoço, enquanto comíamos? Agora, enquanto vim ao consultório? Ou muito, muito tempo atrás, apenas não percebemos? E continuamos a viver, a falar, a nos beijar, a dormir juntos, a procurar a mão do outro, o olhar do outro, como bonecos animados que continuam a se movimentar ruidosamente por um tempo, mesmo estando a mola de seu mecanismo quebrada... O cabelo e as unhas do morto continuam a crescer, talvez as células nervosas ainda sobrevivam quando os glóbulos vermelhos já estão mortos... Nada sabemos. Que refletor devo acender para encontrar nessa escuridão, nessa trama, aquele momento único, aquele milésimo de segundo em que algo cessa entre duas pessoas?
Sándor Marai
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