24 de junho de 2019

O sublime


Umas das coisas estranhas de se viver no mundo é que só de vez em quando a gente tem certeza que vai viver para sempre. A gente tem essa certeza às vezes, quando acorda naquela hora suave e solene da alvorada e sai de casa, sozinha, e joga a cabeça para trás e olha bem para cima e fica observando o céu pálido ir mudando lentamente, ruborescendo, e vê coisas desconhecidas e maravilhosas acontecendo, até que a luz que surge no leste faz a gente quase gritar e o coração da gente para diante do estranho e imutável esplendor do nascer do sol — que vem acontecendo todas as manhãs há milhares, milhares e milhares de anos. A gente sente essa convicção nessa hora, por alguns instantes. E também às vezes quando está sozinha num bosque, ao pôr do sol, e a misteriosa e silenciosa luz dourada que passa, oblíqua, por entre e por baixo dos galhos das árvores, parece estar dizendo lentamente, sem parar, algo que a gente não consegue ouvir muito bem, por mais que tente. E às vezes a imensa quietude do azul-escuro da noite, com milhões de estrelas esperando e observando, também nos dá essa certeza. E às vezes um som distante de música também faz com que isso seja verdade. E às vezes a expressão nos olhos de uma pessoa.
 
Frances Hodgson Burnett

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