1 de março de 2017

Da vez primeira que me assassinaram


Da vez primeira em que me assassinaram 
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... 
Depois, de cada vez que me mataram 
Foram levando qualquer coisa minha... 
 
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou 
O mais desnudo, o que não tem mais nada... 
Arde um toco de vela, amarelada... 
Como o único bem que me ficou! 
 
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada! 
Ah! Desta mão, avaramente adunca, 
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada! 
 
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai! 
Que a luz, trêmula e triste como um ai, 
A luz do morto não se apaga nunca!
 
Mário Quintana

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...