Uma história engraçada circulou durante o Nono Congresso Internacional de História das Religiões em Tóquio, em 1958. Verdadeira ou não, ilustra o abismo que separa o Oriente do Ocidente em certas esferas essenciais da experiência. Referia-se a dois personagens eruditos, o primeiro um sociólogo ocidental e o outro um sacerdote xintoísta. Ambos haviam apresentado teses no congresso; cada um supunha ter conhecimento da natureza, da história e dos problemas essenciais da humanidade e nenhum dos dois se julgava aquilo que em chinês poderia ser denominado chien, pássaro fabuloso com um único olho e uma asa que precisa se unir a um de seus iguais para poder voar.
O erudito pássaro ocidental, junto com muitos outros da multidão de delegados de todos os cantos da terra, que o Comitê Japonês Organizador transportava miraculosamente para cada um dos importantes santuários xintoístas e templos budistas do país - segundo a história que se contava - tinha presenciado sete ou oito ritos xintoístas e admirado numerosos santuários xintoístas. Tais lugares de adoração são desprovidos de imagens, têm formas simples, com tetos maravilhosos e, com frequência, pintados de vermelho claro. Os sacerdotes, imaculados em suas vestes brancas, ornatos negros nas cabeças e grandes tamancos negros, andam em filas com ar pomposo. Uma música misteriosa eleva-se; aguda, entremeada por batidas rítmicas fracas e fortes de tambor e de grandes gongos; entrecortada por sons de harpa tangidos em um coro invocador de espíritos. E então aparecem, silenciosos, dançarinos nobres, imponentes, pesadamente adornados, mascarados ou não, do sexo masculino ou feminino. Eles se movem de modo lento, um pouco como nos sonhos ou no transe xamânico; permanecem algum tempo à vista e retiram-se, enquanto expressões vocais são entoadas. É como fazer uma viagem no tempo retrocedendo dois mil anos. Pinheiros, rochas, florestas, montanhas, ar e mar do Japão despertam e enviam espíritos nesses sons. Eles podem ser ouvidos e sentidos em toda parte. E quando os dançarinos se retiram e a música cessa, o ritual acaba. Vira-se e olha-se novamente para rochas, pinheiros, ar e mar e todos estão silenciosos como antes - só que agora habitados, e resgatamos a consciência do milagre do universo.
Contudo, parece difícil para as pessoas de certos tipos de raciocínio experienciar o que esta arte evoca. "Comparado com as grandes religiões do mundo", li, por exemplo, "o xintoísmo talvez deva ser julgado o culto religioso mais rudimentar de que temos documentos escritos. Ele não avançou além do politeísmo elementar; suas personificações são vagas e frágeis; há pouca compreensão da concepção do espírito; ele mal possui um código moral; praticamente não reconhece um estado futuro e, em geral, mostra pouca evidência de pensamento profundo ou devoção sincera."
Pois bem, nosso amigo sociólogo encontrou seu amigo sacerdote xintoísta numa festa ao ar livre em um amplo jardim japonês onde os caminhos, serpenteando entre as rochas, revelavam paisagens imprevisíveis, clareiras com cascalhos, lagos escarpados, lanternas de pedra, árvores de formas curiosas e pagodes. E nosso amigo sociólogo disse ao seu amigo sacerdote xintoísta: "Sabe, estive em uma série de santuários xintoístas e vi muitos ritos, além de ter lido e pensado sobre o assunto; mas veja, não entendo sua ideologia. Não entendo sua teologia."
E aquele cavalheiro japonês, polido, como se estivesse respeitando a profunda questão levantada pelo cientista estrangeiro, parou por um momento como se estivesse refletindo. Então, sorridente, olhou para o amigo. "Nós não temos ideologia", disse. "Nós não temos teologia. Nós dançamos."
Essa é, precisamente, a questão. Porque o xintoísmo, na origem, é uma religião, não de sermões, mas de admiração: um sentimento que pode ou não produzir palavras, mas que de qualquer maneira vai além delas. O propósito do xintoísmo não é a "compreensão da concepção de espírito", mas o sentido de sua ubiquidade. E justamente porque esse propósito é surpreendentemente alcançado, as personificações do xintoísmo são "vagas e tênues" com relação à forma. Elas são denominadas kami, termo usualmente traduzido como "deus", porém de modo incorreto, ou como "espírito".
"Durante sua estadia ouvirão muita coisa a respeito das religiões japonesas", disse Sua Alteza Real Príncipe Takahito Mikasa aos convidados do Congresso, "e, sem dúvida, discordarão do uso da palavra inglesa god ou gods (deus ou deuses) como tradução aproximada do termo kami, o objeto de adoração no culto que é exclusivamente japonês. Também perceberão, com toda probabilidade, que os termos japoneses kami e 'deus' são inteiramente diferentes em sua natureza essencial."
O objeto de adoração do budismo japonês é hotoke (o Buda) e, como o budismo é uma religião importada, seria lógico presumir que hotoke e kami sejam bem diferentes. Entretanto, tornou-se bastante comum entre os japoneses relacionar os dois, e costuma-se usar o termo kamihotoke. E mais ainda, não se percebe contradição alguma nessa combinação do que teoricamente deveriam ser dois conceitos distintos; há um grande número de japoneses que pode orar, sem o menor constrangimento, a kami e hotoke ao mesmo tempo. Isso, acredito, pode ser explicado em parte pela psicologia dos japoneses, que tende mais para o emocional do que para o racional. Como os japoneses têm prazer em sentir a atmosfera, são mais propensos a ser influenciados pelo meio.
Há um antigo poema japonês que em tradução livre diz:
Desconhecido de mim o que aqui reside:
Lágrimas escorrem por uma sensação de desmerecimento e gratidão.
"Dizem que esses versos foram escritos quando seu autor estava orando no Grande Santuário de Ise, e acho que refletem adequadamente o sentimento religioso de muitos japoneses."
Assim, um rito xintoísta pode ser definido como um momento de reconhecimento e evocação da admiração que inspira gratidão para com a fonte e natureza da existência. E enquanto tal, ele se dirige como arte (música, jardinagem, arquitetura, dança etc.) à sensibilidade - não às faculdades do intelecto. De maneira que vivenciar o xintoísmo não é obedecer a determinado código moral definido, mas viver com gratidão e admiração em meio ao mistério das coisas. E para conservar essa sensação, as faculdades permanecem abertas, claras e puras. Esse é o significado da pureza ritual. "O kami deleita-se com a virtude e a sinceridade", afirma uma obra do século XIII compilada pelos sacerdotes do Santuário Exterior de Ise. "Fazer o bem é ser puro; fazer o mal é ser impuro."
Portanto, é incorreto dizer que o xintoísmo carece de ideias morais. A concepção moral básica é que os processos da natureza não podem ser maus; em consequência, o coração puro segue os processos da natureza. O homem - uma coisa natural - não é inerentemente mau; ele é divino em seu coração puro, em sua existência natural. Os termos fundamentais são "coração brilhante" (akaki kokoro), "coração puro" (kiyoki kokoro), "coração justo" (tadashiki kokoro) e "coração honrado" (naoki kokoro). O primeiro denota a qualidade de um coração brilhando claramente como o sol; o segundo, um coração límpido como uma pedra preciosa; o terceiro, um coração inclinado para a justiça, e o último, um coração amável e sem tendências desonestas. Os quatro unem-se como seimei shin: pureza e cordialidade de espírito.
Além do mais, nos relicários internos dos principais santuários foram preservados, de uma época remota, muito além dos tempos de que temos registro, três talismãs simbólicos trazidos ao mundo, dizem, pelo augusto neto Céu Pleno, Terra Plena, Apogeu do Sol no Céu, Príncipe Pleno de Espigas de Arroz Rubras, quando a realeza desceu ao Japão. Eles são: um espelho (pureza), uma espada divina (coragem) e um colar de pedras preciosas (benevolência).
Em resumo, então, a principal preocupação do xintoísmo é devotada ao cultivo daquele sentimento que Rudolf Otto denominou o essencial da religião, "o qual, embora admita ser discutido não pode ser estritamente definido": o senso do númeno. E com uma inflexão particular, não de medo, não de náusea, não de desejo por libertação, mas de gratidão experienciada ante o mistério. E assim, mais uma vez: "Desconhecido de mim o que aqui reside" - o que reside em qualquer lugar, em qualquer coisa de nosso interesse; "lágrimas escorrem" - pois estou, de fato, comovido; "por uma sensação de desmerecimento" - como alguém não perfeitamente puro de coração, e "gratidão".
"Que kami", lemos em um comentário do século XV de um estadista erudito, "é adorado por Amaterasu Omikami em abstinência na Planície do Céu Supremo? Ela adora seu Si-Próprio interior como kami, esforçando-se por cultivar a virtude divina em sua própria pessoa por meio da pureza interior e, assim, tornar-se una com o kami."
E agora, concluindo com base no desenvolvimento atual do culto, podemos dizer que o xintoísmo no antigo Japão atuava em quatro esferas: 1. doméstica, centrada na gratidão pelo kami do poço, do portão, da família, do canteiro de jardim etc. e também (para citar Langdon Warner), pelos "espíritos reconhecidos no fogo da cozinha e na panela de cozinhar, pelo espírito misterioso que dirige o processo de envelhecimento que ocorre no pote de conserva e na fermentação da cerveja"; outrossim, pelos pais, os ancestrais (uma influência confuciana aqui) e, em sentido inverso, dos pais pelos filhos; 2. o culto comunitário local, de gratidão, tanto aos fenômenos naturais do meio em que se vive quanto aos mortos locais dignos de respeito, os ujigami (isto é, kami da uji, a "descendência local"); 3. os cultos das artes, honrando agradecidamente, nos próprios processos de trabalho, os mistérios e poderes das ferramentas, materiais etc. (Não é preciso lembrar que as costureiras realizam réquiens às agulhas perdidas ou quebradas, e que o fundador da indústria de pérolas japonesa, Kokichi Mikimoto (1858-1955), antes de morrer, realizou um réquiem às ostras, cujas vidas tinham feito sua fortuna). E finalmente, 4. o culto nacional, de gratidão o imperador em seu palácio, à Casa da Admiração, e aos seus ancestrais preservadores do mundo, os Grandes Kami do Kojiki, dos quais o maior - nascido como a luz do universo do olho esquerdo do Macho que Convida, depois de sua vitória sobre a impureza - é particularmente espelhado aqui na terra de Ise, no Grande Santuário: no topo de uma grande elevação de uma majestosa região arborizada e grandes rochas e coníferas em forma de setas, ao qual o devoto sobe por uma grande escada megalítica, como um zigurate natural.
O erudito pássaro ocidental, junto com muitos outros da multidão de delegados de todos os cantos da terra, que o Comitê Japonês Organizador transportava miraculosamente para cada um dos importantes santuários xintoístas e templos budistas do país - segundo a história que se contava - tinha presenciado sete ou oito ritos xintoístas e admirado numerosos santuários xintoístas. Tais lugares de adoração são desprovidos de imagens, têm formas simples, com tetos maravilhosos e, com frequência, pintados de vermelho claro. Os sacerdotes, imaculados em suas vestes brancas, ornatos negros nas cabeças e grandes tamancos negros, andam em filas com ar pomposo. Uma música misteriosa eleva-se; aguda, entremeada por batidas rítmicas fracas e fortes de tambor e de grandes gongos; entrecortada por sons de harpa tangidos em um coro invocador de espíritos. E então aparecem, silenciosos, dançarinos nobres, imponentes, pesadamente adornados, mascarados ou não, do sexo masculino ou feminino. Eles se movem de modo lento, um pouco como nos sonhos ou no transe xamânico; permanecem algum tempo à vista e retiram-se, enquanto expressões vocais são entoadas. É como fazer uma viagem no tempo retrocedendo dois mil anos. Pinheiros, rochas, florestas, montanhas, ar e mar do Japão despertam e enviam espíritos nesses sons. Eles podem ser ouvidos e sentidos em toda parte. E quando os dançarinos se retiram e a música cessa, o ritual acaba. Vira-se e olha-se novamente para rochas, pinheiros, ar e mar e todos estão silenciosos como antes - só que agora habitados, e resgatamos a consciência do milagre do universo.
Contudo, parece difícil para as pessoas de certos tipos de raciocínio experienciar o que esta arte evoca. "Comparado com as grandes religiões do mundo", li, por exemplo, "o xintoísmo talvez deva ser julgado o culto religioso mais rudimentar de que temos documentos escritos. Ele não avançou além do politeísmo elementar; suas personificações são vagas e frágeis; há pouca compreensão da concepção do espírito; ele mal possui um código moral; praticamente não reconhece um estado futuro e, em geral, mostra pouca evidência de pensamento profundo ou devoção sincera."
Pois bem, nosso amigo sociólogo encontrou seu amigo sacerdote xintoísta numa festa ao ar livre em um amplo jardim japonês onde os caminhos, serpenteando entre as rochas, revelavam paisagens imprevisíveis, clareiras com cascalhos, lagos escarpados, lanternas de pedra, árvores de formas curiosas e pagodes. E nosso amigo sociólogo disse ao seu amigo sacerdote xintoísta: "Sabe, estive em uma série de santuários xintoístas e vi muitos ritos, além de ter lido e pensado sobre o assunto; mas veja, não entendo sua ideologia. Não entendo sua teologia."
E aquele cavalheiro japonês, polido, como se estivesse respeitando a profunda questão levantada pelo cientista estrangeiro, parou por um momento como se estivesse refletindo. Então, sorridente, olhou para o amigo. "Nós não temos ideologia", disse. "Nós não temos teologia. Nós dançamos."
Essa é, precisamente, a questão. Porque o xintoísmo, na origem, é uma religião, não de sermões, mas de admiração: um sentimento que pode ou não produzir palavras, mas que de qualquer maneira vai além delas. O propósito do xintoísmo não é a "compreensão da concepção de espírito", mas o sentido de sua ubiquidade. E justamente porque esse propósito é surpreendentemente alcançado, as personificações do xintoísmo são "vagas e tênues" com relação à forma. Elas são denominadas kami, termo usualmente traduzido como "deus", porém de modo incorreto, ou como "espírito".
"Durante sua estadia ouvirão muita coisa a respeito das religiões japonesas", disse Sua Alteza Real Príncipe Takahito Mikasa aos convidados do Congresso, "e, sem dúvida, discordarão do uso da palavra inglesa god ou gods (deus ou deuses) como tradução aproximada do termo kami, o objeto de adoração no culto que é exclusivamente japonês. Também perceberão, com toda probabilidade, que os termos japoneses kami e 'deus' são inteiramente diferentes em sua natureza essencial."
O objeto de adoração do budismo japonês é hotoke (o Buda) e, como o budismo é uma religião importada, seria lógico presumir que hotoke e kami sejam bem diferentes. Entretanto, tornou-se bastante comum entre os japoneses relacionar os dois, e costuma-se usar o termo kamihotoke. E mais ainda, não se percebe contradição alguma nessa combinação do que teoricamente deveriam ser dois conceitos distintos; há um grande número de japoneses que pode orar, sem o menor constrangimento, a kami e hotoke ao mesmo tempo. Isso, acredito, pode ser explicado em parte pela psicologia dos japoneses, que tende mais para o emocional do que para o racional. Como os japoneses têm prazer em sentir a atmosfera, são mais propensos a ser influenciados pelo meio.
Há um antigo poema japonês que em tradução livre diz:
Desconhecido de mim o que aqui reside:
Lágrimas escorrem por uma sensação de desmerecimento e gratidão.
"Dizem que esses versos foram escritos quando seu autor estava orando no Grande Santuário de Ise, e acho que refletem adequadamente o sentimento religioso de muitos japoneses."
Assim, um rito xintoísta pode ser definido como um momento de reconhecimento e evocação da admiração que inspira gratidão para com a fonte e natureza da existência. E enquanto tal, ele se dirige como arte (música, jardinagem, arquitetura, dança etc.) à sensibilidade - não às faculdades do intelecto. De maneira que vivenciar o xintoísmo não é obedecer a determinado código moral definido, mas viver com gratidão e admiração em meio ao mistério das coisas. E para conservar essa sensação, as faculdades permanecem abertas, claras e puras. Esse é o significado da pureza ritual. "O kami deleita-se com a virtude e a sinceridade", afirma uma obra do século XIII compilada pelos sacerdotes do Santuário Exterior de Ise. "Fazer o bem é ser puro; fazer o mal é ser impuro."
Portanto, é incorreto dizer que o xintoísmo carece de ideias morais. A concepção moral básica é que os processos da natureza não podem ser maus; em consequência, o coração puro segue os processos da natureza. O homem - uma coisa natural - não é inerentemente mau; ele é divino em seu coração puro, em sua existência natural. Os termos fundamentais são "coração brilhante" (akaki kokoro), "coração puro" (kiyoki kokoro), "coração justo" (tadashiki kokoro) e "coração honrado" (naoki kokoro). O primeiro denota a qualidade de um coração brilhando claramente como o sol; o segundo, um coração límpido como uma pedra preciosa; o terceiro, um coração inclinado para a justiça, e o último, um coração amável e sem tendências desonestas. Os quatro unem-se como seimei shin: pureza e cordialidade de espírito.
Além do mais, nos relicários internos dos principais santuários foram preservados, de uma época remota, muito além dos tempos de que temos registro, três talismãs simbólicos trazidos ao mundo, dizem, pelo augusto neto Céu Pleno, Terra Plena, Apogeu do Sol no Céu, Príncipe Pleno de Espigas de Arroz Rubras, quando a realeza desceu ao Japão. Eles são: um espelho (pureza), uma espada divina (coragem) e um colar de pedras preciosas (benevolência).
Em resumo, então, a principal preocupação do xintoísmo é devotada ao cultivo daquele sentimento que Rudolf Otto denominou o essencial da religião, "o qual, embora admita ser discutido não pode ser estritamente definido": o senso do númeno. E com uma inflexão particular, não de medo, não de náusea, não de desejo por libertação, mas de gratidão experienciada ante o mistério. E assim, mais uma vez: "Desconhecido de mim o que aqui reside" - o que reside em qualquer lugar, em qualquer coisa de nosso interesse; "lágrimas escorrem" - pois estou, de fato, comovido; "por uma sensação de desmerecimento" - como alguém não perfeitamente puro de coração, e "gratidão".
"Que kami", lemos em um comentário do século XV de um estadista erudito, "é adorado por Amaterasu Omikami em abstinência na Planície do Céu Supremo? Ela adora seu Si-Próprio interior como kami, esforçando-se por cultivar a virtude divina em sua própria pessoa por meio da pureza interior e, assim, tornar-se una com o kami."
E agora, concluindo com base no desenvolvimento atual do culto, podemos dizer que o xintoísmo no antigo Japão atuava em quatro esferas: 1. doméstica, centrada na gratidão pelo kami do poço, do portão, da família, do canteiro de jardim etc. e também (para citar Langdon Warner), pelos "espíritos reconhecidos no fogo da cozinha e na panela de cozinhar, pelo espírito misterioso que dirige o processo de envelhecimento que ocorre no pote de conserva e na fermentação da cerveja"; outrossim, pelos pais, os ancestrais (uma influência confuciana aqui) e, em sentido inverso, dos pais pelos filhos; 2. o culto comunitário local, de gratidão, tanto aos fenômenos naturais do meio em que se vive quanto aos mortos locais dignos de respeito, os ujigami (isto é, kami da uji, a "descendência local"); 3. os cultos das artes, honrando agradecidamente, nos próprios processos de trabalho, os mistérios e poderes das ferramentas, materiais etc. (Não é preciso lembrar que as costureiras realizam réquiens às agulhas perdidas ou quebradas, e que o fundador da indústria de pérolas japonesa, Kokichi Mikimoto (1858-1955), antes de morrer, realizou um réquiem às ostras, cujas vidas tinham feito sua fortuna). E finalmente, 4. o culto nacional, de gratidão o imperador em seu palácio, à Casa da Admiração, e aos seus ancestrais preservadores do mundo, os Grandes Kami do Kojiki, dos quais o maior - nascido como a luz do universo do olho esquerdo do Macho que Convida, depois de sua vitória sobre a impureza - é particularmente espelhado aqui na terra de Ise, no Grande Santuário: no topo de uma grande elevação de uma majestosa região arborizada e grandes rochas e coníferas em forma de setas, ao qual o devoto sobe por uma grande escada megalítica, como um zigurate natural.
Joseph Campbell
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